Governo Lula

10/4/2008
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Muito interessante o trecho de Nelson Rodrigues, trazido pelo colega Alexandre de Macedo Marques. E, combinando-o com o comentário do migalheiro Olavo Príncipe Credidio, cheguei ao velho conceito de Hitler, para quem papéis são feitos para serem assinados e, depois, desrespeitados e que, tratados, podem ser rasgados e descumpridos, caso confrontem o interesse nacional, para concluir que, no caso do tal terceiro mandato, a constituição pode, sim, ser mudada sempre que necessário e interessar, ou confrontar o ocupante do Alvorada no momento. 'Basta reunirem-se e mexerem quantas vezes quiserem e tornar-se-á constitucional!'. Como não estamos falando de Hitler, mas de Lula, convenhamos que espera-se o cumprimento da Constituição, ainda que possam antecessores seus terem agido diferentemente, até porque não devemos considerar a usucapião do direito de agir errado. Se o próprio presidente não obedece à Constituição, não deveria continuar na função, a não ser que passemos a aceitar, tranqüilamente que, em nosso país, as leis e a ordem jurídica, como dizia Hitler, são apenas papéis para serem rasgados e a Constituição uma suprema impostura, que basta que 'eles' se reúnam e mexam quantas vezes quiserem, e tudo se torna, de novo constitucional, como uma operação plástica de hímen, para retorno da virgindade. A propósito, não só do trecho de Nelson Rodrigues, mas principalmente em razão dele, vale lembrar que a carreira política de Hitler se deu, toda a sua ascensão, de forma absolutamente democrática, sempre através do voto, e isso na Alemanha, ou seja, do voto do povo alemão, e não do retratado por Nelson Rodrigues. E em março de 1933, o partido de Hitler obteve 44% dos votos e a maioria foi assegurada por coligações partidárias que garantiram a base governamental que acabaram por suprimir, de vez, a oposição a outros partidos. Em pouco tempo, Hitler adquiriu não mais um mandato, mas um mandato vitalício, o controle autoritário do país, através do qual enterrou, definitivamente, a democracia. Lá, também, podia-se rir da Constituição. Não era pétrea e nem imutável. Todo mundo podia 'mexer'. Era só reunirem-se e mexerem e... pronto, como em um passe de mágica, tornava-se, de novo constitucional, virgem e imaculada. É exatamente por isso que o Brasil não necessita de um terceiro mandato: para que, nas próximas eleições tenhamos a oportunidade, e a sorte, de eleger um presidente que pense diferente. Que pense, por exemplo, que não é porque seus antecessores roubaram que agora é a sua vez. Que, porque seus antecessores tinham cartões corporativos, que agora vai usar e gozar essa maravilha. Que porque pode contar com uma 'base' firme no Congresso, firme no mau sentido, pode 'mexer' na Constituição, a seu bel prazer, como e quando quiser. Talvez um dia tenhamos um presidente diferente. Talvez um dia tenhamos um Presidente, assim, com 'P' maiúsculo."

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