Células-tronco

28/5/2008
Dávio Antonio Prado Zarzana Júnior

"Bom, sabedor de que o Padre Lodi é extremamente ocupado em sua missão de defesa da vida e evangelizadora, proponho-me a responder, se puder, as questões trazidas pelo nobre colega migalheiro Nelson Castelo Branco. Em primeiro lugar, é preciso fazer uma diferenciação entre ser contra e ser a favor. A Igreja é a favor da vida, e ela sabe que o pecado (como dito anteriormente, que é a desobediência às leis de Deus e às leis naturais) leva à morte. Ora, é sabido que libertinagem é diferente de liberdade. A liberdade é uma bênção, conduzida segundo os princípios religiosos, éticos e morais mais elementares. A libertinagem, uma maldição: o homem pensa que pode fazer o que quer, como bem entender. Todas as sociedades em que a libertinagem foi levada 'em consideração' como 'lema, regra', e a moral e a religião, sobretudo a cristã, foi relegada a um plano pejorativo, colaboraram empiricamente e historicamente para a disseminação das doenças com a AIDS. Seria um absurdo pretender argumentar que a Igreja quer esta ou qualquer doença. Ao contrário, ao proibir ou não indicar métodos contraceptivos, a Igreja chama a atenção para o que está por trás da procriação humana, idealmente: o amor e o respeito à dignidade da mulher. O sexo não pode ser visto como acessório comportamental egoísta, nem como mercadoria de consumo. O sexo é maravilhoso, justamente porque é sagrado, ao propiciar a possibilidade de uma nova vida, e representar a expressão máxima do amor entre um casal (de modo geral), expressão representada pelo surgimento de um bebê. Não se pode, respeitosamente se diz, afirmar que os métodos contraceptivos são necessários pela razão de que hoje 'a AIDS atinge dimensões de pandemia', porque este tipo de raciocínio não individualiza as pessoas que envolvem-se, ou não, nas situações de libertinagem que destroem a si mesmas e aos outros com quem entram em contato. A melhor prevenção contra as doenças sexualmente transmissíveis é a abstinência sexual. E alguém irá dizer: bom, isso é impossível. Por quê? Impossível, por quê? Quer dizer, a pessoa emprega energias para atacar a Igreja, mas não consegue empregar essas mesmas energias para amar alguém corretamente, sem usá-lo(a)? E onde ficam valores como a fidelidade? Quer dizer, o nobre migalheiro quer que a Igreja se curve ante a - como foi dito – 'força pulsional da sexualidade aliada à liberalidade dos costumes' ? A Igreja deve ser conivente com o mal, para impedir outros males? Ou deve respeitar sempre sua identidade de lutar pela verdade e pela vida, como Cristo ensina? Por outro lado, o voto de castidade tem três conotações: uma Bíblica, outra pastoral, e outra vocacional. A Bíblica é o próprio Senhor Jesus. Ele não se casou, e dedicou toda a sua vida à salvação da humanidade. A pastoral é evidente: o sacerdote ou a freira que não se casam podem dedicar tempo exclusivo às obras eclesiais e de caridade. A terceira, enfim, é vocacional: há pessoas, deste modo, que possuem essa vocação e sentem-se realizados em não casar. Sobre a alegação de que a recusa ao contato sexual genital seria uma negação da vida, talvez não concordem com este sofisma a maioria dos Papas da história, e mesmo o próprio Cristo, que não se casaram, e defenderam a vida inclusive com a sua própria. É incrivelmente falsa a 'colocação' de que o cristianismo seria um cultura de morte. De onde veio isso? Toda a tradição cristã, partindo do 'Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida', prosseguindo para a Ressurreição, o exemplo dos santos e todas as Encíclicas papais, exaltam o valor vida. É tal a confusão conceitual, que beira uma revolta irrefletida contra algo que não se conhece verdadeiramente, a saber, a história da Igreja e a realidade de Jesus Vivo agora. Você não encontrará entre os dez mandamentos a expressão 'não farás sexo', mas encontrará, em contrapartida, o sexto mandamento bem claro: 'não pecar contra a castidade'. A castidade não é um pecado, é um valor que se traduz no respeito profundo à pureza e a conseqüente aversão à libertinagem. Por isso, recomendo ao nobre colega filósofo - também fiz Filosofia - a meditar sobre cada palavra do voto proferido hoje no STF pelo Ministro Menezes Direito. Isto, sim, é ciência."

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