Células-tronco

30/5/2008
Dávio Antonio Prado Zarzana Júnior

"Migalheiro Paulo Vecchiatti, neste tema das células-tronco embrionárias, levantei a questão acerca do subjetivismo, e você respondeu que este seria o "popular 'achismo', ou seja, mera opinião desprovida de comprovação científica". Eu não sei se você conhece a Academia de Ciências do Vaticano. A Igreja não apenas verifica se a fé encontra eco na prova empírica - destinando recursos e pesquisas neste sentido - como também houve quem pedisse perdão público a Galileu, justamente em nome da verdade científica. É lógico que a Igreja também verifica o saber "empírico", como você gosta de colocar. Mas filosoficamente falando, o empirismo não é superior às outras manifestações de conhecimento : é somente uma delas. A fé, deste modo, não é inferior ao saber científico, porque este último limita-se ao que o ser humano pode perceber através dos sentidos da visão, tato, paladar, audição e olfato. Tudo o que não pode ser encontrado no campo fenomenológico empírico, por uma questão intelectual amplamente dissertada por infindáveis filósofos, teólogos e cientistas ao longo dos séculos, não pode ser relegado a um plano "inferior", em adoração antropocêntrica. Em outras palavras - e a exemplo do que já havíamos debatido anteriormente -, só porque é impossível provar a existência do amor, empiricamente, sendo unicamente possível provar a existência de seus frutos concretos, não quer dizer que o amor não exista. E o amor é bem mais importante do que seus efeitos práticos, porque lhes é anterior. Da mesma forma, a fé em Deus tem o próprio Deus como anterior à moção intelectual - e portanto da razão - que leva à fé, ou seja, a crença naquilo que não se testa em laboratório, mas que se percebe pela experiência mundial transcendental (recorde-se os inúmeros casos de pacientes que "voltaram" de um estado de morte cerebral, pelo mundo todo, narrando que estiveram em dois tipos mais comuns de local, com incrível proximidade de relatos ao que a Igreja ensina sobre o Céu e o Inferno, sem que essas pessoas jamais tenham entrado em contato umas com as outras, e já tendo a ciência dado tais fatos como inexplicáveis). Bem, mas isto é apenas um exemplo. De forma que a fé não é um "achismo", um "subjetivismo", como se a pessoa "inventasse" algo. Bem pelo contrário. A fé é não apenas experimentada e comprovada em seus efeitos, da mesma forma que o amor, mas também encontra eco na vivência de bilhões - não apenas milhões - de pessoas no mundo todo. É verdade que interessa a muitas aglomerações do poder econômico tirar a fé das pessoas, porque ela interfere em seu lucro sujo. Isso também são outros quinhentos. Mas a coordenação harmônica de testemunhos históricos ao longo dos séculos sobre a existência de Deus (mesmo fora da Igreja, observe-se bem), corroborada inclusive por cientistas de peso como o diretor do Projeto Genoma deste milênio, não deixa mais qualquer dúvida sobre o sobrenatural. É claro, a fé sempre será um enigma para quem se esforça em não querer crer (um medo de que Deus exista, medo este que é infundado, diga-se de passagem), porque existindo Deus, os planos ocultos de muita gente teriam o questionamento de sua própria consciência, dada a natureza de Amor e Justiça divinas. Sobre a laicidade, parece que o nobre migalheiro continua alimentando a ilusão de que os representantes eleitos pelo povo foram eleitos por 180 milhões de pessoas cultas, de nível superior, que conhecem o passado histórico de cada candidato, e inclusive suas participações em sociedades diversas. Parece o nobre migalheiro desconhecer a força da propaganda, livros de manipulação política, ou mesmo a vontade da elite dominante. A democracia pura não existe no Brasil: existe a vontade, de poucas pessoas, de que a democracia realmente seja o poder do povo, pelo povo e para o povo. Até hoje, sem mencionar o salário mínimo flagrantemente inconstitucional (não atende às necessidades mínimas de habitação, saúde, alimentação etc.), o governo brasileiro não cumpriu os artigos iniciais da Constituição Federal nos quais a solidariedade e a redução das desigualdades são objetivos primordiais da nação. A laicidade, neste sentido, é sim um ato direto contra a Igreja Católica, e não uma "coisa democrática respeitosa". Por quê? Porque a Igreja é a maior influenciadora mundial dos movimentos de solidariedade, princípio constitucional desrespeitado sistematicamente pelos governos do Brasil, desde a época colonial. A história provou a fomentação solidária e pacificadora da Igreja, por meio de inúmeras encíclicas papais e demais documentos relativos a estas. Dogma é uma expressão muito deturpada hoje em dia. Ele tem relação com elementos de fé que não podem ser contestados. Mas não podem ser contestados para a segurança do homem, e não para a sua destruição. Um dogma, seja ele qual for, nunca é para o mal do ser humano, mas somente para o mal dos falsos amigos do homem, aqueles que querem destruir a pureza, a fé, o amor, a vida desde a concepção etc. Para estes, os "dogmas" são um "peso", ao passo que para todos os defensores da vida humana em todas as suas fases, bem como dos valores mais elementares do ser humano, como a solidariedade acima destacada, "dogma" é "orientação do bem e para o bem". E só. Hoje a pseudo-ciência alimentada pela indústria abortista também cria "dogmas". Fala-se em segmentar o crescimento embrionário para se estabelecer uma origem da vida humana a partir deste ou daquele momento, como se todos nós - eu, o migalheiro Paulo, a Ministra Elen, o morador de rua, o Papa, o Diretor de Migalhas - em algum momento de nosso passado, não tivéssemos sido vida humana. Essa afirmação não possui nenhuma base científica. As conclusões a que chegou o relator da ADIN são, aquelas sim, "achismos" e "dogmas" desprovidos de qualquer base empírica séria, ao contrário dos estudos do maior geneticista do mundo, Jerome Lejeune (França), nos quais é cientificamente comprovado o início da vida com a concepção, a fecundação, posição seguida por muitos outros cientistas. Não se pode invocar coisas nobres como a pluralidade, a liberdade de consciência e da autonomia privada, para se dogmatizar - sempre contra a Igreja, por preconceito a tudo o que é religioso, como se fosse mau ou inferior - o início da vida em "estágios". Recentemente uma mulher se levantou da cama após o diagnóstico de morte cerebral, como bem lembrou o migalheiro Daniel Silva, provando cientificamente o absurdo de se qualificar a morte como sendo exclusivamente o término do funcionamento dos sistemas nervoso e cardíaco. O homem não é apenas um animal. Possui alma, para arrepio dos dogmáticos cientistas ateus, que não crêem porque não querem crer, desafiando suas próprias consciências diante dos fatos. Eu compreendo que o caro migalheiro Paulo Roberto Iotti Vecchiatti, que declarou ser homossexual recentemente - sem nenhum problema nisso - não consiga tomar uma posição que possa ferir seus sentimentos pessoais à custa da razão. De fato, é bandeira do movimento gay, estampada nos jornais do último final de semana, "por um estado laico de verdade", ou algo assim. Desta forma, a cortina do "estado laico" aos poucos vai se abrindo, e se vislumbra a mentira científica e o interesse econômico, manipulados para fins altamente escusos de controle da população, como molas propulsoras de uma aversão coordenada a tudo o que seja sagrado. É espantoso que um especialista em direito constitucional confunda democracia com "ditadura da maioria". Ora, a maioria é católica e não quer decisões bizarras na Corte Superior. A não ser que pesquisas criminosas manipulem a opinião pública - prática largamente utilizada no território tupiniquim. Em suma, o país poderá pagar muito caro, no futuro, por sua declaração, através de "representantes ilustres", de desprezo aos direitos indisponíveis, sobretudo ao direito à vida. Vida que tem dimensão humana e espiritual. Deus e alma, na matéria. Amor sem prova, e existente !".

 

 

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