Cigarro

14/11/2008
Dávio Antonio Prado Zarzana Júnior

"Sobre o tema do cigarro, é evidente que nenhuma argumentação pode sobrepor o livre-arbítrio aos valores fundamentais constitucionalmente previstos. A Constituição Federal trata a vida como inviolável, e diz que a saúde é dever do Estado. Ora, essas premissas devem ser levadas em consideração em qualquer julgamento da indústria tabagista, seja qual for a decisão. Pois bem. No filme 'O Informante', vemos o personagem interpretado pelo famoso ator Russel Crowe e, segundo ele, a indústria tabagista manipula os produtos químicos do cigarro de modo a influenciar - ainda quimicamente, repita-se - o cérebro dos fumantes. Vê-se, então, que o livre-arbítrio já começa a ser destruído na primeira tragada. Ou não? É claro que quem quiser pode fumar. Quem quiser ter menos qualidade de vida tem todo o direito de fazê-lo. Mas prefiro pensar que todos aqueles que largaram o cigarro e mudaram de qualidade de vida, para melhor, não estão mentindo. De certo modo, me estranha um pouco a ingenuidade do caro migalheiro Ricardo Alexandre da Silva. Mas ele não tem culpa. Afinal, com o cigarro é assim: ou você se esforça para largar de uma vez, ou vai inventar mil desculpas - algumas até eloqüentes ou juridicamente embasadas - para continuar, sempre tentando afastar de sua mente a realidade de que produtos químicos atrapalham seu raciocínio perfeito no que tange ao fumo. E assim, o governo paradoxal continua arrecadando milhões em impostos do cigarro - e não quer perder esse dinheiro -, convivendo com 'imagens fortes em maços' que não são páreo para o controle químico. Ou o filme 'O Informante' - apenas para citar um exemplo - é uma grande mentira. Mas cada vez que vejo alguém defendendo o 'direito' de fumar - quase sempre por razões econômicas por trás, o que não dá para descobrir sempre - , penso em Wayne McLaren e David McLean, os cowboys Marlboro que morreram de câncer no pulmão. Todo mundo que fuma pára de defender o cigarro quando está na porta da morte, devido a ele. E para quem não fuma, ou mesmo para quem fuma e ainda não está doente... Bem, defender o cigarro é muitíssimo cômodo. Viva o livre-arbítrio. Afinal, só os vivos podem usufruí-lo."

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