Big Brother Brasil

23/1/2009
Leônidas Magalhães de Alcântara

"Vejo-me obrigado a escrever aqui algumas palavras sobre o tópico 'Big Brother Brasil'. Adianto - antes que algum desavisado questione minhas opções televisivas, minhas predileções quando desfruto de (raros) momentos de ócio ou mesmo minha capacidade intelectual - que não sou dado a perder os preciosos e parcos instantes que tenho para desfrutar do convívio com minha família para assistir ao BBB. Só que igualmente inaceitável é ouvir uma série de comentários piegas sobre o mesmo assunto no início de cada ano! E isso já acontece há nove anos (número, aliás, de edições do indigitado programa televisivo)! O problema está na mais profunda base da construção de nossa sociedade. Quem não teve qualquer oportunidade para ler nem mesmo 'O Menino Maluquinho', 'O Pequeno Príncipe', 'A Vaca Voadora', ou mesmo qualquer outra obra que fizesse nascer nas crianças o gosto pela leitura - nem parte da bibliografia de Walt Disney, por exemplo -, jamais lerá quaisquer dos clássicos, nem nunca se interessará por quaisquer discussões filosóficas, pelos ensinamentos de Sócrates, de Platão ou de quem quer que seja! É óbvio que essas pessoas se divertirão vendo os quatro enjaulados no Shopping, e vendo outros tanto pela TV logo após a novela. Aliás, que diferença faz ver quatro jovens numa casa de vidro num shopping, se ainda temos por aí outros absurdos televisivos, como as cenas de assaltos, assassinatos, corrupção e outros ilícitos de maior ou menor gravidade passando na televisão à tarde e no começo da noite, na vil desculpa do 'furo de reportagem'? Essas matérias podem ser transmitidas sem qualquer problema?! Crianças podem ouvir as porcarias que tocam no rádio (e hoje mesmo vi um guri na rua ouvindo um tal de MC Sabe-se Lá o Quê! cantando créu-créu-créu) e está tudo bem? Sem crise? Os adolescentes que hoje ouvem a poesia pornográfica emanada dos morros cariocas são as mesmas crianças de ontem que dançavam 'o tchan' e 'na boca da garrafa', sob os olhares felizes e contentes dos próprios pais. Tomar uma medida como a sugerida pelos diletos migalheiros - com a devida permissão, frise-se - é atentar contra a liberdade de fazer com a própria vida e com o próprio corpo aquilo que bem se quiser; é atentar contra a liberdade de um sem número de apedeutas ou não apedeutas que querem assistir àqueles programas de conteúdo questionabilíssimo; é, enfim, atentar contra aquilo que está na nossa legislação. Censura não se admite neste País! E, pra terminar, não me venha dizer que mesmo depois de um dia cheio de trabalho, com problemas dos mais diversos para resolver e com clientes (ou com os chefes) no pé, o camarada tem de se sentar na biblioteca de casa para ler os Diálogos de Platão. É por isso que eu digo: o melhor remédio para a indignação com a programação televisiva continua sendo o controle remoto! Plim! Plim!"

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