A ausência sentida 3/2/2009 Olavo Príncipe Credidio – advogado, OAB 56.299/SP "Sr. diretor, leio em Migalhas: 'Ambos somos bacharéis em 'ciências jurídicas e sociais', o que nos permite a livre abordagem de todos os temas, nacionais e internacionais, sem exceção, ou restrição.' Bom, permita-me intromissão: sou bel também em ciências Jurídicas e sociais e bacharel em Letras Clássicas, e não me permito a abordagem em todos os temas. Há sempre restrição e exceção; mas, provavelmente levo vantagem em idade: estou para completar 83 anos, e exponho-me em poesia o que penso: eu não sou ninguém. Quiçá falte humildade aos migalheiros, eis porque, por questões íntimas, deixaram de expor-se culpando as críticas que terão sofrido. Ao completar meus 80 anos, lembrei-me de um poema que fiz há décadas e continuo pensando da mesma forma: não sou ninguém! 'Ninguém elucubrações de um agnóstico? Ninguém sentiu o espasmo obscuro, O ser humilde... entre os humildes seres, Embriagado, tonto de prazeres, O mundo para ti foi negro e duro. Cruz e Souza Não sou nem uma gota d' água que vai se esvair, em vapor, retornando aos espaços vazios... para um novo ciclo dos lagos, rios e oceanos, que banham este Mundo. Não sou nem um grão de areia do areal desértico, que, ao sabor dos ventos e das tempestades, está ali e acolá, porém perenemente. Não sou... pois, riem um minúsculo corpúsculo eterno deste imenso Universo... Não sou nem sequer um meson... que se interpõe entre prótons e elétrons, que se transformam em átomos, dando origem às moléculas! Sei que estou neste mundo por um fugaz momento, ligado por um tênue fio á maquina do Tempo, que compassa lentamente, impassível, serenamente, por segundos, minutos, horas dias, meses e séculos, e que serei um dia dele desligado, inexoravelmente...' E quando chegar o momento, nada mais serei do que sempre fui: ninguém, ninguém, para sempre ninguém; e ninguém eternamente, que nesta vida está por um mero acidente de percurso de um microgameta, que fecundou um óvulo, chegando à frente... Por que razão acreditar, pois, que há Alguém nesse imenso Infinito que me tenha feito a sua imagem e semelhança; ou até saiba que eu existo; ou que se importe com a minha efêmera e mísera existência? Atenciosamente," Envie sua Migalha