Ensino jurídico

1/12/2004
Júlio Cezar Dalcol - acadêmico do 4º. ano de Direito da Faculdade de Direito dos Campos Gerais - CESCAGE - Ponta Grossa/PR

"Triste constatação é perceber que nossos conhecimentos são insuficientes para obtermos êxito na área que escolhemos para atuar e, de acordo com a lógica, naquela que deveríamos demonstrar maior aprofundamento técnico e teórico. Tais afirmações não são meras lucubrações e sim, materialização do resultado dos últimos exames da OAB. Os índices de reprovação são alarmantes e tudo indica que as coisas ficarão ainda piores e mais difíceis a julgar pelo relapso tratamento dado aos cursos de Direito em todo país, pelos empresários do setor educacional. Há quem julgue o exame da Ordem um defenestrador de bacharéis, no entanto, esquecem que o problema é anterior, surge nos bancos acadêmicos (atualmente, cadeiras estofadas) que atraem consumidores e não potenciais doutos. Parece absurdo, mas é fato que a aparência vende mais que a essência e que o conforto é colocado em primeiro plano, em detrimento de uma formação adequada. Acredito que muitos (isso vale para pais e para os próprios estudantes) avaliem o local onde poderão estudar com base na beleza externa, no conforto das salas onde as aulas serão ministradas e até no preço da mensalidade (quanto mais cara, melhor!), esquecendo de avaliar se a biblioteca está estruturada, se os professores são adequadamente qualificados, enfim, se aquele local proporcionará educação de qualidade. Lamentável perceber que o comércio supera a educação e que nós, acadêmicos de Direito matriculados em faculdades particulares, somos meros consumidores de um serviço. Gostaria que tais afirmações fossem casos excepcionais, mas, trata-se de uma leitura pouco favorável a nós mesmos e que demonstra que o contrário é a expressão da verdade. Dia desses, durante uma das últimas aulas do meu terceiro ano como acadêmico de Direito, ouvi um professor dizendo que há quem afirme que os atuais exames da OAB estão por vezes, mais complexos que as provas dos concursos para cargos do Judiciário. Lamentável não é o nível de dificuldade do exame, mas sim, a qualidade dos nossos cursos. Não sou contra o exame, tampouco quanto à cobrança necessária e rígida de todo aquele que pretende atuar como causídico, mas, sou a favor do respeito para com o acadêmico que mais que dinheiro, investe tempo, dedicação e a esperança de toda uma vida num curso que acredita ser a sua própria redenção, seu sucesso, um exemplo de superação de limites. O que dizer se ao final de cinco anos de estudos, viagens, trabalhos, debates, esse acadêmico vier a ter seu sonho frustrado quando se deparar com as questões do exame da Ordem à sua frente e perceber que foi vítima de um estelionato educacional? É fato que a essência do aprendizado é mérito pessoal, fruto do esforço e acontece, via de regra, fora do horário de aulas através de estudos feitos em casa durante a madrugada, da atualização constate, da leitura incessante e até conversando com profissionais mais experientes, inclusive de outras áreas, ocasiões diversas através das quais podemos acrescentar ainda mais peso e consistência àquilo que nos atrai. No entanto, não podemos ignorar que a preparação básica deve ser ofertada aos acadêmicos de maneira vigorosa, para que ao final, a fragilidade não surja como chicote que desmascara e traz à tona a face de uma educação insossa."

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