Atos secretos

27/7/2009
Pedro Luís de Campos Vergueiro

"O cara chama-se Henrique Dias Bernardes e tem 27 anos de idade. Em seu currículo consta ser namorado de Maria Beatriz Sarney, neta do imortal José Sarney. Daí, parece, a potência do seu QI, no clã Sarney é claro. E o Cara tem parentesco sim com o imortal José Sarney, o parentesco por afinidade, a afinidade de ser o namorado da sua neta. E a tônica das notícias é exatamente essa, a de que não obteve o cargo por suas habilidades técnicas, por seu currículo, mas, sim, por ser namorado de uma neta do imortal José Sarney. Se o fosse por outras qualidades curriculares, o ingresso na Casa não teria se dado mediante um ato não publicado. E, ademais, essas circunstâncias estão destacadas nas transcrições das conversas grampeadas, conversas entre o pai da namorada com o avô dela, ou seja, que houve um arranjo (negociação seria o termo mais apropriado?) entre a saída de um parente não afim e a entrada do namorado da neta, o que ocorreu mediante um ato não publicado é preciso que se frise bem. Ora, 'um funcionário como eu', como disse o namorado da neta do imortal, não precisaria ingressar na Casa por, como se diz, por baixo do pano. A ilegalidade da presença do namorado da neta do imortal Sarney, está patenteada com a 'descoberta' recente de que a nomeação se deu por ato oculto (ato não publicado) o que foi apurado muitos meses depois da nomeação, quando já havia sido deflagrada a crise na Casa, por muitas outras razões além dessa. Outrossim, na notícia da entrevista disponibilizada na internet não consta se as qualificações escolares do namorado são aquelas exigidas para o exercício do cargo, tanto o inicial junto à Diretoria-Geral, como o atual na Diretoria da Secretaria de Assistência Médica e Social do Senado – SAMS. Nada, nenhum esclarecimento a respeito foi dado, nem mesmo pelo Diretor da SAMS, o qual, anote-se, diz não ter nenhuma queixa do namorado da neta do imortal José Sarney. Não obstante, poderá complementar em declaração futura esse importante dado. A presença do namorado na Casa teria outro significado se ele tivesse prestado um concurso público onde seus reais méritos profissionais teriam sido apurados em concurso com outros postulantes que, evidentemente, também têm méritos. De tudo quanto já veio a lume a respeito desse grave lance da crise que está abatendo a Casa, temos ainda um rompante de audaciosa declaração: 'Para a Casa, é bom ter um funcionário como eu'! Por enquanto, só se for pelo fato de ser namorado de uma neta do imortal José Sarney. Esta é uma prevenção jure et de jure, pode ser, mas a outra, a juris tantum ainda não foi demonstrada, sobretudo a arrogada 'experiência na iniciativa privada', visto que não se tem conhecimento pelas notícias de alguma iniciativa privada. Infelizmente o namorado não laborou com a necessária sabedoria. Diz-se que os ratos abandonam o navio por intuição de que a próxima viagem não será levada a termo senão para o fundo do mar. Pois é, parece que a visão do futuro, previsível até desde quando cogitado o avô José Sarney para a Presidência da Casa, foi obinubilada pela cintilação do QI e pela oportunidade fácil, levando o namorado à condição de bode espiatório da crise que medra na Casa."

 

 

 

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