Migalheiros

25/8/2009
Marcelo de Melo Fernandes - advogado

"Urgente! Os anões que insistem em desfilar no jardim de Migalhas, defronte à sala do Diretor, andam aprontando as deles. Curioso, o próprio Diretor resolveu checar as últimas peripécias das criaturas de baixa estatura... Não deu outra! As ordens do chefe são para informar toda a comunidade jurídica sobre o que esses pequenos fanfarrões são capazes... Como ordens são ordens, publiquem a última peripécia com urgência. Após, conclusos ao Diretor.  Será que até os anões, ilustres visitantes do jardim do Diretor, merecem chibatadas? Aliás, aquele papo que a pena não deve ir além do condenado também se aplica a eles? Sem querer interferir na eventual punição sabiamente definida pelo Diretor, desde já peço clemência. Pelas reportagens que junto, observa-se que na verdade eles são vítimas do sistema! Sem reprimendas severas! Caso contrário abandonarei as crônicas para sempre.... E mais. Depois da gripe suína ter atingido este causídico que vos fala, crônicas não me faltam. Tenho umas 6 no copidesque! Um abraço para todos!

'O anão

Não tinha mais jeito. A sentença já havia sido publicada nas capas dos principais jornais. Mal abriu seu e-mail e lá estava – todos os informativos jurídicos já comunicavam a paródia. Não demoraria muito para que o tribunal pedisse explicações. Até o CNJ já estava sabendo do fato.

Como aquilo tinha acontecido? Questionou-se o magistrado recém-empossado na titularidade da vara. Não era possível que aquela sentença realmente estivesse assinada por ele. Ainda tinha um fio de esperança que o erro fosse do diário oficial.

Pediu ao diretor do cartório pra ver o processo em mãos. Estava lá: 'A demanda anão merece prosperar.' O que seria aquilo? Um processo de menor importância? Rito sumário? Uma mera vogal indevidamente digitada havia feito uma baita diferença. Coisa que acontece, afinal de contas ele próprio despachava com modéstia petições com erros bem piores.

Mas e o palavrão? Uma adjudicação compulsória no centro da comarca nada tinha a ver com aquilo. E mais, julgar aquela demanda nem tinha sido tão difícil assim.

'Isto posto, julgo '#########' a presente ação improcedente...'

Aquilo só poderia ter sido obra daquele anão, o mesmo espertinho que havia se inserido no texto dois parágrafos antes. Será que agora os seres de baixa estatura haviam se aliado aos terríveis vírus cibernéticos, cavalos de tróia, sacis-pererês e outras criaturas desaforadas?

Indignado, o magistrado abriu o arquivo digital e conferiu o texto original redigido por ele próprio. Estava lá: '#########'. Chamou o diretor do cartório, um escrevente e o assessor em sua sala e deu-lhes uma bela chamada. Pelo menos em tese a sentença passou pelas mãos de todos ali presentes. Por fim, expressou seu receio – acreditava que aquilo só poderia ser resultado de algum vírus ou coisa do tipo.

A desculpa dos demais foi uníssona: a vara estava lotada de processos e a falha não foi notada. Um dos co-responsáveis ainda atreveu-se a dizer que se o juiz não quisesse mais erros daquele tipo bastaria a utilização de uma máquina de escrever.

Que nada! A solução era bem mais simples. O magistrado apenas alterou suas senhas de acesso ao sistema por nomes de familiares e daquele dia em diante nunca mais se viu um palavrão daqueles, no máximo o nome da finada sogra no meio de um despacho qualquer.'"

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