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Homenagem - "Tributo a uma Princesa morta"

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Da Redação

terça-feira, 24 de julho de 2007

Atualizado às 08:44

 

Sonhos ceifados

"Como são belos os dias
Do despontar da existência !
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor ;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor !"

 

Carioca de nascimento, Mariana Suzuki Sell viveu sua infância na cidade de Campos dos Goytacases/RJ. Desde os ditosos tempos da Escola Técnica Federal de Campos principiavam em seus olhos um largo horizonte pela frente.

Os pais, os médicos Luís Carlos Sell e Lúcia Suzuki, viam com orgulho a filha brilhando no "despontar da existência", como tão bem cantou o poeta Casimiro de Abreu.

E Mariana não se fez pequena. Foi estudar Direito. Formou-se com louvor na Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Mas o país era pouco. Partiu para o Japão, onde se pós-graduou (LLM) em Direito Internacional Público pela Universidade de Kioto.

De volta ao Brasil, com tão laureado currículo, foi colaboradora do Programa Brasil-Japão da UERJ, tendo participado de diversas atividades nacionais e internacionais, já que era especializada em Direito das Águas e Direito Ambiental.

Desde fevereiro de 2005, era também uma migalheira. E, atualmente, dirigia o Instituto Ipanema - Instituto de Pesquisas Avançadas em Economia e Meio Ambiente.

Tudo isso, caros leitores, com apenas 30 anos. Isso mesmo, Mariana Suzuki Sell tinha 30 anos de idade.

E, ainda nesta "aurora da vida", quando a alma "respira inocência", ela teve sua existência ceifada pela flecha do destino.

Mariana tinha ido à capital gaúcha para uma entrevista numa ONG ligada à preservação ambiental.

Na volta, no vôo da TAM, partiu para sempre.

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Veja abaixo o comovente artigo de Luiz Carlos Sell, pai de Mariana, publicado na Folha de S. Paulo em 21/7/07 :

"Tributo a uma Princesa morta"

Luiz Carlos Sell e família

Mariana foi condenada a morte. Condenada e executada sem chance de qualquer defesa. Seu crime? Ela teve a audácia de desafiar a incompetência, imprevidência, irresponsabilidade e descaso das nossas autoridades dirigentes, dos órgãos (ir)responsáveis de um Presidente da República tíbio e oscilante na resolução de um problema que todo cidadão medianamente informado tem como resolver. Mariana comprou uma passagem aérea no Vôo 3054 da TAM. Comprou assim a sua pena capital. Voou até Porto Alegre para uma entrevista com a finalidade de assumir um emprego numa ONG internacional, cujo objetivo é a defesa dos direitos humanos no planeta. Mariana era advogada, especialista em direito internacional na área de meio ambiente e intransigente na defesa da água como direito da humanidade. Tinha um currículo invejável e era respeitada internacionalmente em vários países onde proferiu conferências, publicou trabalhos e participou dos grandes colóquios sobre o assunto. Não voltou para casa. Foi executada criminosamente junto com aproximadamente cento e oitenta pessoas ao embarcar em um avião que previamente se sabia ser portador de um defeito mecânico. A pergunta que sempre fica nessas circunstancias é: DE QUEM É A CULPA? Infraero, Anac, Cindacta, Decea, FAB, Ministros, Presidente Lula, companhias aéreas? Essa são algumas das entidades (ir)responsáveis pela aviação civil no país. Onde estão as autoridades dirigentes que há nove meses, desde o acidente aéreo com o avião da GOL, vêm assistindo à crises sucessivas no setor aéreo, constituindo-se no caos administrativo cujo resultado são os péssimos serviços oferecidos àqueles que por ventura necessitam utilizá-los?

Fruto do progresso, do desenvolvimento, ministro Mantega? Relaxar e gozar ou mais apropriadamente relaxar e morrer, sexóloga Marta Suplicy? Bem, não é culpa do governo e sim da companhia aérea. Que se fo..., não é ministro Marco Aurélio Garcia? E o que acha disso tudo o Presidente Lula? Até o momento que escrevo este texto não houve pronunciamento do chefe da Nação.

A sociedade brasileira precisa dar um basta a essa situação. Somente nosso grito pode acordar os torporosos dirigentes. Não há comando. Estamos ao sabor da procela.

Quero neste momento de dor me solidarizar com os familiares das vítimas dessa catástrofe. Unidos, nosso grito de dor e de revolta será mais forte.

A minha princesa Mariana, estou certo que encontrou a paz. Condenaram-na à morte e a executaram. A linda pessoa que era, cheia de vida e projetos, devolveram-me sob a forma de um pedaço de carvão. Que a morte dela não tenha sido em vão. Suscito a todos que lerem este texto que lutem e mostrem sua indignação com os fatos ocorridos, para que outras pessoas não paguem com suas vidas pelo descaso e o desrespeito das autoridades. Adeus minha princesa. Deus está contigo. Nós te amamos.

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