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Bruxaria?

Mistério nas telecomunicações assombra STF

Da Redação

quarta-feira, 26 de maio de 2004

Atualizado em 25 de maio de 2004 12:04


Bruxaria?


Os problemas nas telecomunicações do país não encontram fronteiras e atingem inclusive o Supremo Tribunal Federal. Esta semana recebemos o relato do infortúnio de Antônio Francisco Pereira, assessor do ministro Carlos Ayres de Britto.

Confira abaixo a história de Antônio, que apesar de bem-humorada, retrata um dos sérios problemas que atinge nosso país.



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Eu não acredito em bruxas. Nunca acreditei. Quando criança, morei no interior de Minas, à luz de lamparina, e também não acreditava em bicho-papão, alma penada ou mula-sem-cabeça. Mas, agora, no limiar da terceira idade, sou obrigado a rever meus conceitos. Ou melhor, minhas crenças. Há mistérios que ultrapassam o limite da razão. Tentar resolvê-los pode significar a perda da própria razão. E nem sempre o enigma vem do monstro em forma de esfinge ("Decifra-me ou eu te devoro").

Um telefone, por exemplo. Quer coisa mais inocente do que um telefone? Inocente e útil. Útil e poderoso. Amigo de todas as horas. Ouve e repassa suas aflições e suas alegrias. Confidências de alcova. Segredos de Estado. Pelo telefone se declara a guerra e se celebra a paz. Entre casais ou entre nações. Imagine-se uma pane nas telecomunicações por - digamos - 12 horas. Seria o caos. O mundo retornaria, num átimo, à idade da pedra. Por isso, eu seria a última pessoa a desconhecer a importância do telefone, fixo ou celular.

E é exatamente aí que reside o mistério que nos atormenta - a mim e a minha esposa - desde que mudamos para o apartamento 1.001-A do Ed. Saint Moritz, há dois anos.

Os documentos ora apresentados falam por si. Mas vou sumariar o caso.

Moramos sozinhos, eu e Zulma. Com Deus, é claro. Mas, que eu saiba, Deus não precisa de telefone. E freqüenta também outros lares, ainda que não seja convidado. Não, há pois, razão para tê-Lo como suspeito das ligações fantasmas que foram debitadas inicialmente à conta do terminal 435-6152 e, depois, do terminal 435-5359, num total de 18 (dezoito) chamadas. A troca de números foi uma tentativa frustrada - feita por orientação da própria TELECOM - para estancar a enxurrada de ligações clandestinas, das quais surge como campeão disparado o celular nº 61926-0085.

Sem solução amigável - apesar das repetidas reclamações - cancelamos o serviço e entramos na Justiça, isto em 3/2/2003. O processo está em fase de execução, beneficiando, apenas, o proprietário do imóvel, Hylton Pereira.

Optamos, então, pela telefonia celular (nº 9286-1912), em nome de Zulma, pois - apesar de eu não acreditar em bruxas - o carma poderia estar no meu nome.

Resolvemos dar um tempo. Um ano, pagando contas altíssimas, via celular, por ligações feitas, majoritariamente, para Minas Gerais.

Em fevereiro deste ano, acreditando que a "mandinga" já havia passado, recorremos novamente à telefonia fixa e fomos brindados com o terminal nº 435-9060, também em nome de Zulma, para dar sorte. O número é bonito, de fácil memorização, a sugerir um convívio feliz no mundo das comunicações, tão recheado de senhas, códigos e cifras.

Aí, veio a primeira conta: uma ligação para Anápolis, que não fizemos. Valor insignificante. Deixa pra lá!.

Veio a segunda conta: seis ligações que não fizemos (três para São Paulo, duas para Porto Alegre e uma para Goiânia). Total: R$10,44. Não é grande coisa, mas é preocupante. Pagamos assim mesmo.

E eis que, ontem à noite - para celebrar a minha volta do trabalho - recebo a última conta, vencível no dia 24/5/2004. Doze ligações misteriosas: Uma para Valparaízo (curtíssima), duas para o Maranhão (curtíssimas), duas para Vitória (R$1,95), duas para São Paulo (R$13,33), uma para Varginha (R$2,61) e quatro para o celular nº 619226-0085 (R$36,71).

Isso mesmo. Trata-se do mesmo número (agora com mais um algarismo) que assombrou os antigos telefones 435-6152 e 435-5359 e que foi o campeão das ligações clandestinas. Voltou com força total. Nada menos que quatro ligações, uma delas com duração de 36 minutos e vinte e dois segundos. Haja fôlego!

A "coisa" não conhece limites. Não se deixa enganar com troca de telefones, mudança de nomes ou reclamações. E parece que voltou com apetite redobrado, para compensar a abstinência a que foi submetida no período em que suspendemos o serviço.

E, por falar no primeiro telefone (435-6152), a Embratel nos encaminhou uma fatura vencida em 24/2/2004. O curioso é que a fatura veio em nome de pessoa desconhecida (Newtonian Hidethomi Sakaguti), cobrando serviços prestados um ano depois de desligado o aparelho no nosso endereço.

Confesso, senhora síndica, que é mistério demais para o meu gosto, para a minha idade e para a minha compreensão. Já li vários livros de ficção (científica e policial). Já assisti a centenas de filmes de mistério (A maldição da múmia, A invasão dos marcianos, A volta dos mortos-vivos), mas nunca vi nada igual: "As Sete Pragas doTelefone".

Zulma também desistiu de entender o fenômeno. Tem até receio de pegar o aparelho de novo e ser abduzida por um alienígena (Quem sabe, o ET de Varginha?)

Por isso, eu não sei mais o que fazer, além de comunicar-lhe os fatos, para eventuais providências internas, que possam garantir a inviolabilidade de comunicação para todos os condôminos.

Não sei, enfim, se pago a última conta, se ajuízo outra ação, ou se desligo o aparelho e volto a me comunicar com os semelhantes por meio de sinais de fumaça.

Não sei se recorro ao Papa. Não sei se chamo um exorcista ou se contrato Sherlock Holmes. Só de uma coisa eu sei agora:

Eu não acreditava em bruxas.

Antônio Francisco Pereira

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