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Um esclarecimento

Ariovaldo Esteves Roggerio

O Dr. Adauto Suannes, Desembargador aposentado, afirmou em seu artigo "Pobres, negros, mulheres e quotas educacionais", que a cultura cristã foi a causa da marginalização do negro, e que a Igreja Católica sempre aceitou a escravidão do negro africano. Respeito a pessoa do Dr. Adauto, mas não partilho de sua opinião.

terça-feira, 9 de maio de 2006

Atualizado em 8 de maio de 2006 11:51


Um esclarecimento


Ariovaldo Esteves Roggerio*



O Dr. Adauto Suannes, Desembargador aposentado, afirmou em seu artigo "Pobres, negros, mulheres e quotas educacionais" (Migalhas 1.405 - 4/5/06 - clique aqui), que a cultura cristã foi a causa da marginalização do negro, e que a Igreja Católica sempre aceitou a escravidão do negro africano. Respeito a pessoa do Dr. Adauto, mas não partilho de sua opinião. A "instituição" escravidão faz parte da sociedade do homem muito séculos antes do cristianismo. Se hoje essa ferida está sendo erradicada, principalmente no ocidente, foram os preceitos cristãos de igualdade, fraternidade, amor ao próximo que atingiram-na mortalmente. Basta conferir a história para perceber que em países de cultura não cristã -onde esses conceitos não foram plenamente assimilados-, ainda permanece a escravidão ou só muito tardiamente foi abolida. Peço ao Dr. Adauto que leia a Carta de São Paulo a Filemão, onde o apóstolo dá os argumentos cristãos contra essa infame criação humana, aceita sem discussão antes do cristianismo pelo mundo antigo. Se o cristianismo não pode erradicá-la de imediato, foi porque estava demasiadamente arraigada no conformismo humano (um paralelo: quem ousa hoje discutir a democracia? Tendo erros ou não, só no futuro seremos cobrados das nossas omissões).


Quanto à Igreja Católica, é bom lembrar que é instituição onde negros e brancos de origem humilde sempre foram recebidos e puderam ascender à sua hierarquia não devido a cor, ou situação econômica, mas pelo espírito de serviço que os imbuíram.


Em aula magna no Centro de Extensão Universitária, dia 4 de maio de 2006, o Professor Manuel Porto, Diretor da Faculdade de Direito de Coimbra, Presidente do Conselho Nacional de Educação de Portugal e Deputado do Parlamento Europeu, homem versado na pesquisa e muito culto, dizia que o cristianismo foi o responsável pela igualdade entre as pessoas, o que não havia no Direito Romano.


Concluo lembrando que há abundante material a ser examinado antes de se emitir juízo contra a Igreja Católica. Como um juiz deve sempre ouvir as duas partes, para fazer justiça, sugiro ao Desembargador Adauto Suannes que leia o livro "500 anos de Evangelização", do historiador Evandro Faustino (São Paulo: Quadrante, 2000), Doutor em História pela USP, obra que coleciona os documentos da Igreja a respeito da escravidão. Além dessa obra, faz-se necessária a leitura dos fartos documentos da Igreja condenando a escravidão do negro e do índio, inclusive com severas penas canônicas para os infratores.
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*Advogado do CEU - Centro de Extensão Universitária







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