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A interdependência complexa

Jorge Donadelli

Já sabemos o que os governantes podem fazer por nós brasileiros, e sabemos também, que é nosso direito que eles o façam da melhor forma possível, pois a história recente já mostrou que quem elege, também pode deslegitimar. O candidato de hoje não faz mais promessas vagas, como quem oferece um presente; hoje, ele assume compromissos, como quem cumpre um dever, uma regra.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Atualizado em 19 de janeiro de 2007 07:45


A interdependência complexa

Jorge Donadelli*

Mais uma eleição presidencial concluída, a quinta de cunho democrático, desde o término do período militar.

Já sabemos o que os governantes podem fazer por nós brasileiros, e sabemos também, que é nosso direito que eles o façam da melhor forma possível, pois a história recente já mostrou que quem elege, também pode deslegitimar. O candidato de hoje não faz mais promessas vagas, como quem oferece um presente; hoje, ele assume compromissos, como quem cumpre um dever, uma regra.

Contudo, alguns conceitos ultrapassados ainda vigoram muitas vezes, como na insistência em dividir nosso país entre o Brasil das elites e o Brasil dos pobres, colocando-os em um sistema de soma zero, ou seja, um só ganha quando o outro perde e vice-versa.

Ao nos depararmos com a crise, que assola o setor produtivo brasileiro, é impossível acreditar que o país esteja ganhando alguma coisa com isso, pelo menos no caso da nossa indústria calçadista. Nos deparamos todos os dias com negociações quase impossíveis. É bom que as pessoas entendam como se calcula o valor de um produto de exportação para não achar que o empresariado reclama sem razão. Um sapato cotado com seu valor agregado, por exemplo, calculamos ao preço de U$ 32,00 o cliente quer pagar U$ 26,00.

Sigam as contas para chegar ao câmbio justo para exportação: se calcularmos U$ 32 x 2,10 (câmbio atual), chegaremos a R$ 67,20 que dividido por U$ 26,00 (valor que o cliente pode pagar), concluímos que o valor correto para a cotação do dólar seria R$ 2,58. Considerando que haveria um pequeno impacto na variação dos custos, por parte dos fornecedores, entendemos ser correto o valor que pleiteamos, por ocasião de nosso manifesto, em 21 de setembro, U$ 2,70, como valor ideal.

Bem sabemos que a lei de mercado é quase tão poderosa quanto a lei da gravidade. Se não aceitarmos a oferta do cliente, ele buscará outras alternativas. Caberá a nós vender com prejuízo ou perder o negócio.

Nosso setor é grande gerador de mão-de-obra, conseqüentemente generoso na distribuição de renda. É notável a caracterização de uma cidade onde está instalado - não se tem grandes riquezas, porém não existe miséria nem favelas.

Uma das premissas do desenvolvimento sustentável é a interdependência entre os componentes da sociedade, se um vai mal, afeta a todos. E o que é consenso em nosso país, é que o novo governo deve ter obsessão pelo crescimento.

Crescer é preciso, contudo, reformar também é preciso. Sem uma reforma tributária visando menos impostos, reforma política, modernização na política cambial - que hoje nos sacrifica com uma moeda desproporcionalmente valorizada e ajuste fiscal; dificilmente alcançaremos o crescimento desejado e voltaremos a almejar tempos melhores. Queremos acreditar que a política econômica tão ortodoxa que vigorou tenha sido uma precaução excessiva na hora de construir alicerces sólidos para sustentar o crescimento, e que agora, o arrojo empreendedor tomará assento na gestão federal.

Franca produz sapatos de alta qualidade, exportamos para mais de 70 países, ao longo dos anos viemos nos capacitando para dar suporte a isso, cada vez mais pessoas estudam inglês, espanhol, italiano e algumas até o mandarim. Temos escolas técnicas, centro de pesquisas com a mais alta tecnologia e até mesmo um Centro de Design em fase de conclusão. Nossa luta é pela capacidade de competir, com os melhores, e não apenas com os mais baratos.

Contudo estamos assistindo a uma transformação do nosso parque produtivo, que para muitos é uma desconstrução. Não estamos inertes, derramaremos até a última gota de suor, trabalhando para continuarmos trabalhando. E o setor unido, bem representado, cobrará das autoridades o verdadeiro compromisso com o Brasil.

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* Presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca



 

 

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