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O ensino na vida do eterno Mestre Goffredo Telles Jr.

A trajetória ímpar de Goffredo da Silva Telles Junior, eleito Professor-Símbolo da Academia de S. Francisco : o ensino era seu destino.

Da Redação

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Atualizado em 10 de junho de 2011 11:42


Professor-Símbolo

O ensino na vida do eterno Mestre Goffredo Telles Jr.

"Você seria capaz de repetir a um grupo de amigas as mesmas coisas que você vem me explicando nestas últimas noites?"

O pedido feito em uma noite fria de inverno de 1930 partiu de Olívia Guedes Penteado, mulher que pertencia a "uma raça valorosa, legítima descendente de uma brava gente, feita de bandeirantes e pioneiros, abridores de fazendas no sertão bruto, semeadores de cidades e precursores de uma civilização inédita num mundo novo." A querida avó de Goffredo da Silva Telles Junior.

A proposta, tão singela e carregada de percepção, comoveu Mestre Goffredo.

"Sem querer, minha avó havia tocado, em cheio, uma das cordas mais sensíveis de minha alma. Hoje, eu sei, é claro, que minha alma foi geneticamente construída para ser a alma de um professor"

De fato, o curso de Lógica foi ministrado no ano de 1931, durante as férias do jovem Goffredo, a uma turma de importantes senhoras.

"Doces lembranças, doces! Minhas aulas vespertinas - bem me recordo - antes de dá-las, eu as preparava longamente, com devoção apaixonada. E eu as proferia com serena segurança, como se ali estivesse falando de improviso, sobre assunto familiar, sabido e ressabido, à moda dos doutores - sim, à moda dos doutores, mas com o coração em alvoroço"

Em pouco tempo, Goffredo da Silva Telles Jr. entraria em contato com sua segunda casa, o local onde exerceria sua profissão e paixão: a sempre velha e nova Academia.

Largo de S. Francisco

Na primavera do mês de setembro de 1932, a grande dama paulista Olívia Guedes Penteado foi procurada por alguns estudantes da Faculdade de Direito que buscavam apoio e patrocínio para fundar a Academia de Letras da Faculdade de Direito - que efetivamente foi instalada, em ato solene do dia 6 de outubro do mesmo ano. Guiado pela amada avó, Mestre Goffredo esteve presente na solenidade.

"Esse evento ocupa lugar de destaque em minha vida. Levado pela minha avó, a ele estive presente. Era a primeira vez que eu ingressava nas Arcadas do Largo de São Francisco".

E de lá, Mestre Goffredo nunca mais saiu. Primeiro, como aluno. Depois, como professor, assumindo a disciplina "Introdução à Ciência do Direito". Por quase cinquenta anos, a Faculdade foi o prolongamento de sua casa; por toda a vida, o ensino foi seu ofício.

De sua longa experiência, o Professor aprendeu que a "aula não tem a virtude de introduzir na cabeça do aluno ciência nenhuma, ou quase nenhuma. O professor fala, as palavras entram por um ouvido do estudante e saem pelo outro." Para Mestre Goffredo, o objetivo de uma aula é acordar o espírito dos alunos, abrindo-lhes os olhos para algo importante, enquanto que acende a "centelha do interesse".

Como o Professor conseguia alcançar seu objetivo? Com o "conhecimento do assunto, simplicidade de exposição e amor aos estudantes", disse. Não é de se admirar, portanto, que seus alunos guardem na memória a imagem de um guia, alguém em quem se inspirar vida afora, mesmo após sua aposentadoria em 1985.

Devoção

(Professor Goffredo da Silva Telles Jr. entre diretores do Departamento Jurídico do XI de Agosto)

O advogado Luis Eneas Chiocchetti Guarita lembra-se da primeira vez em que ouviu falar no Mestre, em 2005, ainda calouro da São Francisco: "O Departamento Jurídico XI de Agosto passava por dificuldades na renovação do convênio que mantinha com a Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Soube então que o auxílio de um importante professor da casa, já aposentado, foi crucial para a manutenção daquele escritório que presta um serviço de valor inestimável."

A recepção que o Mestre Goffredo fazia aos alunos com a centelha do interesse acesa passou a acontecer em sua casa, após a aposentadoria, em meio às estantes repletas de livros que cobrem as paredes. O ex-calouro Guarita relata uma visita, ainda no fim do ano de 2005. "Ele nos falou por meia hora, pois não se conversa com o Mestre, aproveita-se para ouvir ao máximo", diz. "Ele transmitia a serenidade de uma pessoa que já passou por tudo, e que mudou a vida de tantas pessoas, e os rumos do país que sempre amou", completa.

Espirituoso, Mestre Goffredo causava grande impacto nas mentes e corações de seus alunos. Com um leve toque de humor, era capaz de criar empatia instantânea em suas exposições. Hoje advogado, Luis Eneas ainda guarda na memória as palavras do Professor: "... e pela justiça, pelo amor, pela democracia e pelo Corinthians."

Para quem desde cedo exercia sua vocação para o ensino, Goffredo da Silva Telles Jr. acreditava que a aula ideal tinha praticamente uma dose do impossível. Seus requisitos seriam "a competência de um Lafayette e o coração de um Charles Aznavour, cantando na noite de Paris..." Para o Mestre, a aula ideal era uma obra grega.

"Ela é o sumo límpido da longa destilação de um pensamento. Ela é a linha simples de uma ideia madura. E ela deve ser beleza - a beleza da eloquência desataviada, provida do sal de uma emoção..."

Considerando que a muitas de suas exposições seguiam-se aplausos efusivos dos estudantes, encantados com as palavras, gestos e ideias do Mestre, há de se pensar quantas obras homéricas o ilustre Professor construiu...

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