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Tragédia

Entre escombros, advocacia carioca tenta retomar rotina de trabalho

O escritório de advocacia Blatter e Galvão, que ocupava o 13º andar do edifício que desmoronou no RJ está formando uma associação de vítimas.

Da Redação

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Atualizado às 10:55

Tragédia

Entre escombros, advocacia carioca tenta retomar rotina de trabalho

O escritório de advocacia Blatter e Galvão, que ocupava o 13º andar do edifício que desmoronou no RJ está formando uma associação de vítimas.

A banca obteve ontem na Justiça liminar obrigando a prefeitura a permitir acesso ao local para onde estão sendo levados os destroços.

A juíza Angélica dos Santos Costa deu prazo de 24 horas para a prefeitura permitir que os proprietários acompanhem em tempo integral os trabalhos e que os bens identificados sejam imediatamente entregues aos titulares mediante recibo. Veja as determinações da magistrada:

- que os réus promovam a transferência imediata para local adequado de todo e qualquer corpo ou resto mortal encontrado, guardando-o em segurança, de modo que o seu familiar possa identificá-lo, permitindo-se o acesso dos representantes dos autores a tal local, devendo os réus informarem o local designado para tal fim;

 

- que os réus promovam a transferência imediata para local adequado de todo e qualquer bem encontrado, guardando-o em segurança, de modo que seu titular / proprietário possa identificá-lo, permitindo-se o acesso dos representantes dos autores a tal local, devendo os réus informarem o local designado para tal fim;

 

- que seja determinado que os réus permitam que os representantes dos autores acompanhem, em tempo integral, o trabalho de triagem do entulho recolhido, onde quer que tal trabalho seja realizado, devendo os réus informarem o local designado para tal fim;

 

- que sejam entregues os bens aos seus titulares / proprietários, imediatamente, após serem devidamente identificados, mediante recibo de entrega.

 

O processo, agora, será distribuído para uma das varas da Fazenda Pública da capital.

 

Tragédia - II

A partir de hoje, os advogados que perderam o acesso a seus escritórios devido ao desmoronamento terão reservadas salas do "Escritório Compartilhado da OAB/RJ". O regime de exclusividade vigora até sexta-feira, 3/2, podendo ser prorrogado.

Já os prazos processuais nas causas dos advogados que tinham escritórios nos edifícios que desabaram estão suspensos por 30 dias. A medida começou a contar a partir do dia 26 de janeiro.

Tragédia - III

Entre as vítimas do desabamento ocorrido semana passada no Rio, estava o advogado Nilson Assunção Ferreira, de 50 anos. O causídico foi enterrado no Cemitério São Francisco Xavier na última sexta-feira. Ele deixou esposa, filhos e netos.

Migalhas dos leitores - Rio de Janeiro de outrora

"O informativo Migalhas com a crônica de Tertuliano Vahia Monteiro de Sá e Benevides está especial (Migalhas 2.803 - 27/1/12). Para quem conhece um pouco de História, já morou na Cidade Maravilhosa de outrora, e vê o que hoje acontece naquelas plagas, a crônica é um bálsamo e, ao mesmo tempo, uma saudade de coisas que parecem nunca mais voltar. O cronista é deveras feliz em suas lucubrações mítico-poéticas. Parabéns a ele e a Migalhas. Migalhas é um editorial imprescindível, por sua firmeza e coragem no defender o Direito, a Justiça, a Ética. Cordialmente," Geraldo L. de Campos

"Senhor Diretor,

Peço desculpas se ocupo vosso tempo e o dos leitores com divagações deste provecto e solitário carioca, que vive em sua vetusta morada aos pés da Rua do Jogo da Bola, no castigado centro do Rio de Janeiro.

Contemplando as mazelas que afligem esta urbe moderna, fico saudoso do tempo em que nossos avós, os sinhozinhos e as nhanhãs de outrora, passeavam despreocupados, com seus tílburis, pelas ruas da Corte, sem jamais imaginar que seus descendentes sofreriam com bueiros a explodir, arranha-céus a desmoronar e helicópteros a perturbar seu sono.

Quando falo nisso, meus sobrinhos dizem que estou a romantizar o passado, que a cidade antiga, com suas vielas infectas e suas epidemias de febre amarela, estava longe de ser um paraíso, mas essa nostalgia do que não vivi insiste em habitar minha cachola, talvez perturbada pelo incessante funk que meu jovem vizinho insiste em ensinar para todos os moradores do Morro da Conceição.

De uns tempos para cá, dei para imaginar que as tragédias que se abatem sobre esta cidade são vinganças que o passado fica a engendrar, em represália aos maus-tratos que o progresso causou à memória desta terra.

Assim, passei a ver a tragédia do Bateau Mouche como uma resposta do Deus Netuno aos muitos aterros que avançaram sobre seus domínios. A explosão de um prédio na Praça Tiradentes, como uma retaliação arquitetada por Clio, a musa da História, diante de um contrassenso : como é que a cidade ergue, no meio de uma praça dedicada ao Mártir da Inconfidência, uma estátua de Dom Pedro Primeiro, um neto daquela desassisada rainha que foi a algoz do nosso herói?

Tudo isso me vem à baila quando penso na tragédia mais recente da cidade, que pôs abaixo três prédios da Rua Treze de Maio. A Treze de Maio, que já se chamou Rua da Guarda Velha, porque ali o velho Gomes Freire havia estabelecido um corpo de guarda para conter a algazarra dos escravos que vinham buscar água no Chafariz da Carioca... A Treze de Maio, que já abrigou o Teatro Lírico, onde brilharam Caruso, Sarah Bernhardt e Duse, e onde Toscanini pela primeira vez regeu uma orquestra... A Treze de Maio, que deveria ser tão cara para os jornalistas, pois ali ficava o prédio neogótico da Imprensa Nacional, ali Irineu Marinho fundou O Globo, e Chateaubriand instalou num certo momento seu império.

E não deixa de ser irônico o fato de que um dos edifícios destruídos agora fica na pequena Rua Manuel de Carvalho, cujo nome homenageia um dos mestres da engenharia brasileira, auxiliar de Paulo de Frontin na epopeia de construção da Avenida Central.

Recuo mais no tempo e me recordo que, ocupando o leito da atual Treze de Maio, havia uma lagoa, a de Santo Antônio. E, voltando à conspiratória teoria da Vingança da História, fico a imaginar se não haveria nessa tragédia uma revanche tardia dos sapos da antiga lagoa. Afinal, os sapos, barbudos ou não, podem causar muitos estragos...

Atenciosamente,

Tertuliano Vahia Monteiro de Sá e Benevides"

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