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No maior julgamento da história do judiciário paulista, traficante desafia juiz e ameaça testemunha

Da Redação

terça-feira, 6 de setembro de 2005

Atualizado às 11:25


No maior julgamento da história do judiciário paulista, traficante desafia juiz e ameaça testemunha

A ousadia do crime organizado invadiu ontem o Tribunal do Júri do Fórum de Rio Preto, na maior audiência da história do Poder Judiciário do Estado de São Paulo. O traficante Jair Carlos de Souza, o Jajá, ameaçou a primeira testemunha de acusação e foi expulso do plenário pelo presidente da sessão, juiz da 4ª vara Criminal de Rio Preto, Emílio Migliano Neto. A audiência faz parte do processo originado no final do ano passado pelo desfecho da Operação Desmonte, em que 137 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público por tráfico de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro. A Polícia Militar armou o maior esquema de segurança já visto no Fórum. Foram deslocados 41 policiais e dez cães (todo o efetivo do canil) para cercar o prédio, monitorar a entrada de pessoas e fiscalizar as escadas internas. Para a audiência das testemunhas de acusação, presos foram trazidos do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Rio Preto e da penitenciária de Valparaíso, na região de Araçatuba. A movimentação alterou a rotina das imediações do Fórum.

O primeiro a depor foi Fabiano Costa Cuba, autor das denúncias que terminaram na prisão de uma das maiores quadrilhas de traficantes da região. Ele está sob proteção judicial e entrou no tribunal escoltado por três policiais. Durante o depoimento, permaneceu encapuzado e de capacete. Cuba está ameaçado de morte por líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). O delator confirmou o conteúdo dos depoimentos já prestados ao MP e acrescentou informações sobre o universo do tráfico de drogas na cadeia. Disse, por exemplo, que os celulares entram nos presídios dentro da vagina de mulheres, envolto em cinco folhas de papel carbono, câmara de de ar de pneu de bicicleta e, por fim, um preservativo. Segundo ele, na penitenciária de segurança máxima de Riolândia, o dono de uma empresa de redes de pesca é um dos responsáveis pela entrada de celulares, "por R$ 500 cada". A empresa utiliza trabalho de presos como forma de baratear custos e ajudar na ressocialização.

No final do depoimento, enquanto Cuba era escoltado para fora do plenário, o traficante Jajá gritou para a testemunha: "Jesus te ama!". O juiz Emílio Migliano Neto perguntou ao condenado se aquilo era uma ameaça e o bate-boca começou. Migliano então expulsou o traficante, que incitou os demais réus presentes a acompanhá-lo. A ordem foi seguida e houve tumulto. Policiais militares intervieram e contiveram a aglomeração. O juiz mandou que ninguém, a não ser Jajá, saísse. Policiais escoltaram o traficante à saída e o colocaram no carro que o levaria de volta ao CDP. O tumulto foi contido. Outras seis testemunhas seriam ouvidas ontem na audiência. Além de Cuba, até o fechamento desta edição haviam prestado depoimento a presa Franciane Pedrosa Dutra, o delegado-titular da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), Jozeli Donizeti Curti e o investigador da Dise Marcos Rogério Campos.

Desmonte

A Operação Desmonte interceptou no ano passado conversas telefônicas entre Jajá, Mário Sérgio Costa (Esquerda), Edson José da Costa (Edinho), Marcos Roberto Ciconi (Marquinhos) e Anísio Pedro Gonçalves (Anisião). Da cadeia, os traficantes comandavam a distribuição de drogas na região de Rio Preto. Todos os citados e outros oito presos estavam presentes ontem na audiência. Hoje, mais sete testemunhas serão ouvidas, no processo contra outros 23 presos pela Operação Desmonte. A audiência só terminará na sexta-feira. Até lá, 121 presos terão comparecido ao Fórum.
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