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Pauliceia Literária

Escritores revelam que prática jurídica foi essencial em suas carreiras

Evento da AASP aborda pontos de intersecção entre Literatura e Direito.

Da Redação

sábado, 21 de setembro de 2013

Atualizado às 10:05

A AASP completa 70 anos e quem ganha o presente é a cidade de São Paulo. Desde quinta-feira última, 19, escritores nacionais e estrangeiros, mediados por editores, jornalistas e outros profissionais das letras, têm se reunido diante do público para falar de literatura. O eixo condutor desta primeira edição do evento é a obra da escritora paulistana Patrícia Melo, composta por tramas policiais em que os perfis psicológicos dos criminosos são o grande destaque. A proposta desdobrada nos muitos painéis, portanto, é discutir os pontos de intersecção entre Literatura e Direito, sobretudo o Direito Criminal.

Ontem, sexta-feira, o simpaticíssimo romancista português Valter Hugo Mãe confessou diante de uma audiência enlevada que a força propulsora de sua carreira de escritor foi a experiência de um ano e meio como advogado dativo, em que defendeu uma série de mulheres em processo de divórcios litigiosos complexos, muitas vezes após episódios de violência familiar. De acordo com o autor, sua escrita nasceu da vontade de conferir a essas mulheres as vozes que lhes eram negadas em suas histórias.

Para Juan Pablo Villalobos, com quem o português dividiu a mesa mais engraçada do dia, é a atual situação política do México, seu país natal, a razão de suas histórias. Autor de Festa no Covil e Se vivêssemos em um lugar normal, o escritor usa sarcasmo e ironia para registrar o grande absurdo da política mexicana, em que um mesmo partido permanece 70 anos seguidos no poder, é desastrosamente substituído por outro e volta, 12 anos depois, absolvido pelas urnas, como se nada precisasse mudar.

A busca pela verdade

Patrícia Melo e Scott Turow, autores de tramas criminais e jurídicas

Partindo do filme Há tanto tempo que te amo, cujo roteiro foi escrito pelo francês Phillip Claudel, coparticipante da mesa, o professor inglês de escrita criativa Richard Skinner proporcionou ao público algumas reflexões: ainda que se valendo de linguagens diferentes, contar histórias, seja no cinema, seja na literatura, depende de instigar a curiosidade humana: Quem é essa mulher? Por que foi para a prisão? O que a levou a cometer o crime?

Em outro painel, o jovem bacharel em Direito e escritor Raphael Montes, o prestigiado escritor norte-americano William Landay, também advogado e promotor, e o advogado e jornalista Luís Francisco Carvalho Filho, exploraram as dificuldades - se não impossibilidades - de se conhecer o outro e consequentemente a verdade, grande personagem do processo criminal e da literatura policial.

No encerramento do dia, já sob uma belíssima lua cheia, o célebre autor norte-americano Scott Turow, autor de diversos romances de tribunal, livros campeões de venda ao redor do mundo, graduado em Direito pela tradicionalíssima Harvard School, com vários anos de prática jurídica no cargo de "federal prosecutor", algo equivalente ao nosso promotor de justiça, e tantos outros como advogado criminal, cativou a atenção do público com a narrativa de sua trajetória. Embora Turow afirme sem hesitar que o escritor nasceu antes do advogado, credita à sua experiência no júri o sucesso de sua carreira. Para o autor, foi a preocupação com a adoção de uma linguagem que alcançasse os jurados a grande porta para o sucesso de sua escrita.

No belo auditório localizado em prédio histórico no centro da cidade, onde outrora funcionou a Bolsa de Valores de São Paulo, o coração da metrópole está batendo mais forte.

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