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Entrevista

Francisco Müssnich traça perfil do advogado moderno

Para o especialista, não importa o quanto a tecnologia avance, o papel do advogado é insubstituível.

Da Redação

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Atualizado às 08:26

Considerado um dos advogados mais poderosos do Brasil, Francisco Müssnich, sócio da BMA - Barbosa, Müssnich, Aragão, vai ser o responsável pela primeira palestra realizada pelo Aurum, 2º Aurum Summit, evento pioneiro no Brasil sobre práticas inovadoras de gestão no Direito. O tema será "o advogado do futuro".

Segundo Müssnich, os advogados que buscam se modernizar são aqueles que têm a preocupação de manter o foco no cliente, prestando serviço de melhor qualidade e, ao mesmo tempo, perseguindo redução de custo. Essa combinação deixa o cliente mais satisfeito e é, na opinião de Chico, a melhor forma do advogado se aproximar do cliente e fidelizar a relação.

O 2º Aurum Summit acontecerá no próximo dia 23 de novembro. Para adiantar alguns pontos que levará ao evento, Chico concedeu entrevista que revela o quanto o fato dele ter priorizado as relações ao longo da sua trajetória o ajudou a ser uma das principais referências do Direito no Brasil.

Você é referência em advocacia e Direito Empresarial, sócio-senior do escritório mais cobiçado do país e já foi eleito um dos advogados mais poderosos do Brasil. De onde vem a preocupação com a modernização dos advogados?

O que faz o advogado ficar preocupado em se modernizar é exatamente o foco no cliente. Ninguém se moderniza porque é moda. A gente se moderniza por necessidade, porque isso faz com que o profissional preste um serviço de melhor qualidade, a um custo mais baixo e deixe o cliente mais satisfeito. A modernização é um instrumento para se aproximar do cliente ainda mais e, com isso, o advogado consegue fidelizar a relação com o cliente.

Você acha que o advogado sempre se preocupou em se modernizar ou essa é uma nova visão desse profissional?

Nem sempre houve essa preocupação. Tem uma linha divisória na advocacia vista no final dos anos 90, quando houve uma comoditização de alguns serviços jurídicos que hoje o advogado faz sem nenhum mistério. Um exemplo disso é o processo de abertura de capital de uma companhia. Fundamentalmente, a tecnologia e a globalização trouxeram uma ruptura do pensamento arcaico dos advogados, o que forçou os profissionais a se modernizaram para poder competir.

O que lhe motiva a abraçar esse tema (advogado do futuro) e dividir seu conhecimento sobre o assunto com seus colegas?

Eu tenho uma visão muito objetiva. Eu acho que quanto melhor forem os profissionais que estão competindo com você, melhor para a profissão e para o atendimento aos clientes como um todo. Não adianta eu achar que vai ser bom para mim se eu me modernizar e os outros não. Isso, na verdade, vai me atrapalhar, porque o cliente não vai perceber que os advogados como um todo estão se modernizando. É muito importante que os colegas de profissão tenham a mesma qualidade. Nem sempre vão conseguir, mas temos que desejar isso.

Considerando os advogados que conseguem se modernizar e prestar um serviço de qualidade, quais características eles apresentam?

Essa pergunta é dificílima. Hoje, uso agenda para notas de compromisso e escrevo a lápis. Sou manual na minha agenda. Mas estou ligado em todas as tecnologias, o que há de inovação para examinar contratos, para tornar o trabalho mais eficiente, além de formas de se reunir, ainda que virtualmente. Tudo isso permite manter o número de horas de trabalho com maior eficiência. Isso é o que faz o advogado progredir e se diferenciar dos outros. Sistemas operacionais do escritório têm que refletir essa modernidade e qualidade.

E sistemas operacionais tendem a trazer modernidade para os processos de gestão dos escritórios. Você concorda?

Todo escritório de advocacia, não importa de qual porte, precisa de sistemas operacionais que permitam medir o trabalho dos advogados, o quanto geram de receita, o recebimento dos clientes e em que prazo isso se dá, controlar o fluxo de caixa. Também é preciso medir o espaço físico dividido pelo número de advogados para saber o quanto está se gerando por metro quadrado, além de outras métricas. Ou seja, a profissão está acoplada com sistemas operacionais extremamente importantes para a gestão do escritório. E isso faz com que o negócio seja mais eficiente, ajuda a entender sazonalidades, antecipar crises. Tudo o que uma empresa usa, um escritório de advocacia também usa, é só uma questão de adaptar as ferramentas.

Para você, quem é a personificação do advogado do futuro? Você convive com "advogados do futuro" no seu dia a dia? Você se inspira em alguém?

Na verdade, para mim, o advogado do futuro é aquele que dispensa secretária, paga conta pela internet, não vai ao banco, anda com o computador para cima e para baixo. Essa geração é muito mais jovem do que eu. Os jovens me ensinam modernidade em cada momento que estou com eles. Eles dão muito mais para mim do que eu para eles. Temos em torno de 300 advogados no escritório e a maioria é jovem. É um processo de renovação contínuo.

O que o advogado do futuro faz diferente dos demais? De que maneira ele se destaca no mercado?

O diferencial é o talento e a competência. Isso não tem modernidade que substitua. Você pode ser o escritório mais moderno do mundo. Mas se não tiver talento para abrigar todo o ferramental, não adianta nada. Não importa quanto a tecnologia vai avançar. O advogado sempre será necessário. Na minha opinião, trata-se de um profissional insubstituível. Estratégia e criatividade a máquina nunca vai oferecer. Ela pode ajudar a montar estratégia, mas nunca criar.

Como você observa a dualidade entre tradição x modernização dos profissionais da advocacia aqui no Brasil?

Não são atributos incompatíveis. A tradição vai existir sempre, como em um profissional que teve um pai que foi um grande advogado. Eu, por exemplo, não herdei nada. Comecei do zero, com muita transpiração e um pouquinho de inspiração. A tradição da advocacia vai continuar, porque faz parte. Ninguém rompe a tradição dos valores e do ideal de justiça pelo fato de perseguir a modernidade. No Brasil, advocacia, inclusive, é uma questão até constitucional. O advogado é um auxiliar da justiça, de certa maneira. O que acontece é que os advogados podem adotar discursos menos pomposos, o processo eletrônico impede o contato direto com o juiz, a arbitragem também ajuda a equalizar isso. Mas o fato é que tradição e modernidade não são incompatíveis.

Que ideias, comportamentos e pensamentos é preciso abandonar para construir uma carreira de sucesso na advocacia do futuro?

A primeira coisa que deve ser feita é compartilhar conhecimento. Quem compartilha conhecimento se garante, não tem medo de dividir e tornar os outros profissionais também preparados. O sol é grande, cabe todo mundo. Esse ato generoso de compartilhar conhecimento faz de quem compartilha um advogado diferenciado, as pessoas vão vê-lo como líder, como alguém que está ali para somar.

Sem dúvida, essa é uma premissa pessoal sua?

Com certeza. Fiz isso a vida inteira e vou continuar fazendo. E é importante dizer também, ainda sobre pensamentos a serem abandonados, que não existe advogado bom que não estude muito. Intuição só existe quando o profissional tem muita competência. Aí, sim, ele pode usar um pouco da intuição. Mas para chegar lá ele estudou muito. Eu gosto sempre de citar uma frase do golfista Arnold Palmer. Ele disse: quanto mais eu treino mais sorte eu tenho.

Você é fonte de inspiração para advogados iniciantes e também para os mais experientes. Como você se mantém na vanguarda da advocacia com mais de 40 anos de atuação na área? Qual o segredo?

Eu escrevi um livro chamado "Cartas a um jovem advogado". Estou finalizando a segunda edição, que deve ser lançada até o final do ano. Já vendi mais de 15 mil livros. Claramente, isso me deu uma certa reputação, assim como o fato de ter atuado em casos muito interessantes e com muita exposição pública. Além disso, sou professor há 37 anos. Vivo com os alunos há muitos anos. Gosto de fazer isso. Me dá prazer. Jovem advogado é uma fonte de aprendizado para mim. Há uma boa troca. Adoro material humano.

Qual foi o seu maior aprendizado ao longo dessa trajetória pra lá de bem-sucedida?

O maior aprendizado na minha trajetória foi trabalhar em equipe. Isso é insubstituível. A equipe faz você aprender, compartilhar conhecimento, todo mundo remando na mesma direção. Imagine um barco a remo com uma equipe sincronizada. É assim que se consegue performance.

Na sua opinião, o advogado moderno deve ter uma veia empreendedora ou investir apenas em conhecimento técnico na área de atuação é o suficiente?

Deve ter visão empreendedora, no sentido de conquistar novos clientes. E não necessariamente para fazer do escritório de advocacia um negócio. Empreender significa dotar seu escritório de técnicas modernas de gestão e identificar oportunidades.

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