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Lava Jato

Procuradores da força-tarefa da Lava Jato de SP pedem demissão coletiva

Entre os motivos, servidores alegaram incompatibilidade com atuação de Viviane de Oliveira Martinez, que assumiu as atividades do grupo.

Da Redação

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Atualizado às 12:51

Em São Paulo, sete integrantes da força-tarefa da Lava Jato assinaram ofício pedindo desligamento dos trabalhos até o final deste mês, ao PGR Augusto Aras. Segundo os servidores, há "incompatibilidades insolúveis com a atuação da procuradora natural dos feitos da referida força-tarefa, dra. Viviane de Oliveira Martinez", procuradora que assumiu as atividades do grupo em São Paulo no mês de março.

Os procuradores também enviaram ofício aos conselheiros Mario Luiz Bonsaglia e José Elaeres Marques Teixeira, do Conselho Superior do Ministério Público Federal, no qual relatam dificuldades encontradas pela força-tarefa junto à procuradora. Segundo o grupo:

"Em reunião realizada em abril deste ano, a Procuradora da República Viviane começou a mobilizar um discurso no sentido de que teria divergências quanto aos critérios de conexão que vinham sendo aplicados. E com isso, passou a opor resistência ao aprofundamento de investigações em curso, argumentando que lhes faltaria uma "conexão processual forte".

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Operação adiada

O documento afirma que a procuradora também solicitou o adiamento de uma operação que atingiria o ex-governador de São Paulo, José Serra, investigado por lavagem de propinas da Odebrecht nas obras do Rodoanel Sul.

Ao longo do primeiro semestre de 2020, a Lava Jato em SP, segundo o texto, debruçou sobre "complexo esquema de lavagem de ativos" envolvendo o senador Serra que estaria relacionado a "ilicitudes praticadas nas obras do Rodoanel Sul".

"Cumprindo seu papel, esta força-tarefa organizou, nesse plano, numerosos pleitos investigatórios sujeitos a reserva de jurisdição (entre quebras de sigilos bancário, fiscal e telemático e buscas e apreensões), e as minutas respectivas foram sendo trocadas, seguindo prática comum a casos sensíveis, em um grupo de troca de mensagens, para que todos pudesse ler o que fosse produzido e, querendo, pudessem opinar a respeito, sugerir modificações e etc."

Em 11 de junho, ainda conforme o documento, sete peças com pleitos investigatórios foram concluídas para assinatura dos integrantes da força-tarefa. Os documentos seriam remetidos à Justiça Federal para autorização de possível operação "fartamente embasada em provas". As diligências, segundo os procuradores, atingiam "agentes da cúpula do então governo do Estado de São Paulo, e apuraria crimes praticados entre 2006 e, ao menos, 2014".

"Surpreendentemente, contudo, apesar de não ter feito qualquer objeção à época das trocas de minutas, a procuradora Viviane enviou um e-mail, em 12/06/2020, aos demais integrantes da força-tarefa, pedindo que as peças fossem recolhidas do (Sistema) Único, e que a operação planejada fosse adiada."

Falta de envolvimento

Para os procuradores, desde o começo o envolvimento de Viviane Martinez "pareceu muito aquém do que se esperaria de um procurador natural", pontuando que ela não participa de reuniões com advogados e colaboradores, de audiências judiciais pertinentes a casos da Lava Jato ou reuniões com delegados da PF.

O documento relata o pedido de abertura de sindicância para apurar "irregularidades" na distribuição dos processos da operação em São Paulo. A medida foi tomada após o CNMP - Conselho Nacional do Ministério Público determinar a suspensão do envio direto de processos para a força-tarefa e cobrar os critérios usados para remeter os casos aos procuradores do grupo.

No ofício ao Conselho Superior do MPF, o grupo relata que a procuradora Viviane Martinez passou a decidir monocraticamente quais casos tem ou não conexão com a Lava Jato.

"Este tipo de declínio monocrático passou a se repetir com cada vez maior frequência nas últimas semanas. Ora se alegava que se estaria diante de feito que havia sido distribuído à Força-Tarefa apenas pela menção à 'Operação Lava Jato', ora se alegava que se estaria diante de nova investigação que não guardaria conexão com os casos do 5º ofício."

  • Veja o ofício enviado a Aras aqui e ao Conselho aqui.