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Ócio não terá espaço na aposentadoria de Gomes de Barros

Humberto Gomes de Barros encerrou ontem sua carreira como ministro do STJ. No próximo dia 23, ele completa 70 anos, idade em que a aposentadoria é compulsória. "Diz o Estado que eu agora não tenho direito ao descanso, diz que eu tenho obrigação de descansar", afirma. "E eu, o que posso fazer? Tenho de agradecer."

Da Redação

terça-feira, 22 de julho de 2008

Atualizado às 08:35


Aposentadoria

Ócio não terá espaço na aposentadoria de Gomes de Barros

Humberto Gomes de Barros encerrou ontem, 21/7, sua carreira como ministro do STJ.

Amanhã, ele completa 70 anos, idade em que a aposentadoria é compulsória.

"Diz o Estado que eu agora não tenho direito ao descanso, diz que eu tenho obrigação de descansar", afirma. "E eu, o que posso fazer? Tenho de agradecer."

Em dezessete anos de trabalho no STJ, o ministro Humberto Gomes de Barros exerceu diversas atividades. Foi presidente da Primeira e da Terceira Turma e da Primeira Seção, diretor da Revista, vice-diretor da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam), vice-presidente da Corte e atualmente é presidente do STJ e do Conselho da Justiça Federal.

Reconhecido pelo humor e simpatia, ele também se destacou pelas decisões de magistrado e pela veemência com que sempre defende suas posições, seja para manter firme uma jurisprudência - "É melhor uma interpretação errada do que uma jurisprudência vacilante" - seja para apontar falhas do Poder Judiciário, sem poupar críticas à sua morosidade.

A carreira jurídica de Humberto Gomes de Barros já dura quase 50 anos. Começou cedo, quando ele ainda estava no quarto semestre do curso de Direito na então Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, atual UFRJ. Ele era solicitador - uma espécie de aprendiz de advogado - quando participou de sua primeira audiência na junta da Justiça do Trabalho: "Ali eu descobri que poderia ser advogado. Fui sozinho, sem nenhum advogado para me ensinar, como podia ir". Gomes de Barros disse que manteve o ar de autoconfiança, escondendo a inexperiência sob uma expressão séria. "Levei o nervosismo todo para os joelhos. Como eles tremiam!", diverte-se o ministro, que disse ter recebido elogios do colega adversário pelo desempenho na sessão.

A vida de Humberto Gomes de Barros é assim, recheada de boas lembranças. "Eu acho que a vida foi muito generosa para comigo", conclui. Ele diz que agora tem duas opções: ficar em casa ajudando sua mulher, Yvette, ou voltar ao trabalho. "O único trabalho que eu sei fazer é advocacia. Então, como eu não sei cozinhar, tentarei advogar."

Ele reclama, no entanto, de não poder advogar livremente no STJ pelos próximos quatro anos, por imposição da quarentena imposta aos juízes pela reforma constitucional. A medida proíbe ao juiz exercer, por esse período, as funções de advogado perante o tribunal do qual se afastou. "Entrei no STJ com a reputação ilibada e hoje saio com a reputação comprometida" - critica, preservando o bom humor.

Também fazem parte dos planos do ministro viajar, "desenferrujar" o inglês e curtir mais a companhia da família, principalmente dos netos. Mais um livro, agora um romance, já está no forno. Nos projetos, só não há espaço para o ócio. "Eu sou daqueles camaradas que foram condenados ao trabalho, e é uma condenação muito prazerosa", afirma. "Só espero que Deus não me chame tão cedo. Eu gostaria de viver mais um pouquinho para aproveitar, porque eu gosto dessa vida!"

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Leia mais

  • 11/7/2008 - Para o ministro Gomes de Barros, jurisprudência do STJ deve funcionar como um farol - clique aqui
  • 3/7/2008 - Ministro Gomes de Barros alerta para a importância de o STJ manter sua jurisprudência - clique aqui

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