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Lua cheia

Poema de sete faces, Carlos Drummond de Andrade

Da Redação

terça-feira, 28 de setembro de 2004

Atualizado às 11:18

 

 

Lua cheia

 

A primeira Lua cheia da primavera entra em cena hoje, às 13h09, para encantar ainda mais a estação das flores. Maravilhe-se também com o Poema de sete faces, de Carlos Drummond de Andrade.

 

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Poema de sete faces

 

Carlos Drummond de Andrade



Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo,
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundom,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.