MIGALHAS QUENTES

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Homenagem ao Mestre Goffredo Telles Jr.

A missa de sétimo dia em sufrágio da alma do Professor Goffredo da Silva Telles Jr. será celebrada na próxima sexta-feira, às 12h, no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Largo de S. Francisco.

Da Redação

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Atualizado às 12:15


Goffredo Telles Jr.

Homenagem ao Mestre

A missa de sétimo dia em sufrágio da alma do Professor Goffredo da Silva Telles Jr. será celebrada na próxima sexta-feira, às 12h, no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Largo de S. Francisco.

  • Abaixo você confere as homenagens prestadas ao grande Mestre por Migalhas.

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Morreu Goffredo da Silva Telles Jr.

O som do bem-te-vi, festivo, era o sinal da natureza recebendo seu mais novo morador. Acompanhando a ave de piar tão característico, outros pássaros compunham a sinfonia daquele momento único. As árvores em volta, dançando a música dos pássaros, agitavam suas folhas e desvendavam o firmamento que, pela nesga dos galhos era possível lobrigar, estava mais azul do que nunca. E as flores então !, com as cores extraordinariamente vivas, perfumavam o vento que soprava cauteloso a saudade.

Neste clima de regozijo da natureza, na morada eterna da Consolação, SP, nos despedimos do querido Professor Goffredo da Silva Telles Junior. Irmão dos animais e das plantas, assim como S. Francisco, o Mestre Goffredo faleceu, como bem disse sua filha, como um pássaro.

Os presentes, familiares, amigos, autoridades e outras pessoas gradas, sentiram ali, no eloquente silêncio do doloroso momento, a alma do mestre pousando sobre cada um, com sua afetuosa mensagem levada com sua sempre encantadora sabedoria.

Foi assim que demos adeus, na tarde de ontem, ao Mestre Goffredo.

Foram 94 anos de laboriosa vida. Pegureiro do ideal democrático, aos 7 anos já dava aulas de Lógica para as amigas de sua avó, a grande dama Olivia Guedes Penteado. Nesta época, conviveu com a intelectualidade artística, Tarsila do Amaral, Villa Lobos, Mario de Andrade. No Colégio S. Bento, pôde trabalhar a inquietude de suas muitas perguntas à humanidade. E na Faculdade de Direito, encontrou algumas respostas. Amante do Direito, das Arcadas e dos estudantes, ali, naqueles chãos de pedra, foi o lavrador da "disciplina da convivência humana". Plantou flores e colheu amor. De lá veio sua dileta companheira de 42 anos, Dra. Maria Eugenia, e sua querida filha, Dra. Olivia. De lá vieram seus incontáveis discípulos.

O mestre falava a todos nas suas aulas. Mas cada um sentia, a seu modo, tocado singularmente pelas adulçoradas palavras. Era um intelectual de cabedal insuperável, dominando as línguas, o mais intrincado pensamento filosófico, a mais longínqua definição para as coisas. E este homem resumia tudo, tudo, tudo, em breves palavras de amor.

Aposentado há mais de duas décadas, sua presença espiritual é constante nos corredores da Faculdade. É, e sempre será, pois este espírito acadêmico e, sobretudo, franciscano, nunca havia tido tão sublime harmonia. E é, e sempre será, pois se aposentou do ofício, mas jamais deixou de semear amor.

O mundo irá ainda muito estudar o Professor Goffredo e sua obra, mesmo porque o Mestre, em não raras vezes, estava além de seu tempo. Algumas respostas, também com o passar, poderão vir. Outras, não. Fazem parte do mistério da vida.

O mistério encantador da vida que encontrou também poucas palavras para ser definido, chamamo-lo de Goffredo Telles Jr. !

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Migalha do editor

Nunca foi segredo a nenhum migalheiro o elo que une este informativo ao mestre Goffredo.

Em verdade, nunca foi segredo a nenhum migalheiro que é o Mestre quem o recebe aqui, com encantadoras palavras de sua ímpar sabedoria. De fato, o primeiro Migalhas recebido por cada leitor (quando aqui se cadastra ou é indicado), antes da tradicional mensagem do dia, traz, inaugural, uma aula do Mestre Goffredo. No trecho que selecionamos para apresentar o informativo ao novel leitor, o Professor Goffredo ensina que "no Estado Cultural ou Mundo da Cultura, cada homem, ao viver em sociedade, se serve do meio em que se encontra." O nosso meio, e aí sim apresentamo-nos, é feito de migalhas.

Há, na existência de quase nove anos deste rotativo, mais de três mil referências ao Mestre.

Tudo isso, números e informações, no entanto, confesso agora amigo leitor, é o subterfúgio de uma pessoa triste com o coração partido pela perda de um grande amigo. Os doze lustros que nos separam na existência nunca foram empecilho para uma amizade fecunda e fraterna. Há uma década não sei o que é uma quinzena de dias sem falar com o Mestre. Se não sou eu quem ligo, logo vem sua ligação : "Dr. Miguel, que saudade !" Ah! Como é duro imaginar que o porvir não mais terá aquela palavra de apoio, de carinho, de impulso, de amizade e de amor. Lembro-me das incontáveis vezes que ele dizia : "pudera eu ter a força de ir lutar, de falar...". Era a senha, que eu modestamente captava. Ele estava, em verdade, me dizendo para ir em frente, para não deixar esmorecer o fogo da boa luta.

E assim eu seguia. Mas é preciso contar mais aos senhores migalheiros, por dever do momento, conquanto sejam palavras arrancadas de dentro de uma alma enlutada, e que faz este caminho de modo doloroso.

Como o Mestre dizia, "Migalhas nasceu de um sonho" : "era preciso que mostrássemos a necessidade de unir, numa grande família, aqueles que pregam a disciplina da convivência humana". Em volta da mesa do professor Goffredo, nasceu essa ideia, nasceu esse sonho. E o sonho, dizia ele, o "sonho é que mostra o caminho" (clique aqui). E de fato mostrou. A cada sonho, uma nova trilha, uma nova vereda se descortinou.

Na última delas, Migalhas estava ultimando a edição de um livro, sugerido pela zelosa filha, com a reunião de "Três Discursos" do Mestre. Três magníficas peças de oratória, que na próxima quarta-feira irão vir a lume.

Por conta disso tínhamos nos falado várias vezes nestes dias, e a última delas na quinta-feira.

Ah ! como são tantas as lembranças...

São recordações e lembranças, são migalhas que guardo nos escaninhos mais bem guardados de minha memória. Quando a dor da perda permitir, poderei quem sabe narrá-las.

Por ora, desculpem se tenho olhos molhados.

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Leia mais

  • 29/6/09 - Falecimento do Professor Goffredo Telles Jr. repercute na imprensa brasileira - clique aqui.

  • 27/6/09 - Morre Goffredo Telles Jr. - clique aqui.

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