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Um revolucionário em terras brasileiras - Che Guevara recebe, em 19 de agosto de 1961, a Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul

Che Guevara. Uma lenda para os jovens revolucionários de todo o mundo. Um emblema da luta socialista. Um líder político latino-americano. Um revolucionário homenageado em terras brasileiras.

Da Redação

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Atualizado em 18 de agosto de 2009 10:01


Um revolucionário em terras brasileiras


Che Guevara recebe, em 1961, a Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul

"Nasci na Argentina; não é um segredo para ninguém. Sou cubano e também sou argentino e, se não se ofendem as ilustríssimas senhorias da América Latina, me sinto tão patriota da América Latina, de qualquer país da América Latina, que no momento em que fosse necessário, estaria disposto a entregar a minha vida pela liberação de qualquer um dos países da América Latina, sem pedir nada para ninguém, sem exigir nada, sem explorar ninguém."

Che Guevara. Uma lenda para os jovens revolucionários de todo o mundo. Um emblema da luta socialista. Um líder político latino-americano. Um revolucionário homenageado em terras brasileiras.

Conhecido não apenas por sua figura política, mas também por suas andanças - esteve ainda jovem na Venezuela, Costa Rica, Guatemala, México, Cuba - Che Guevara pisou em solo brasileiro no dia 19 de agosto de 1961, em visita ao então presidente Jânio Quadros.

Na época o representante brasileiro havia assumido posição contrária às ações armadas dos americanos em Cuba, que havia se declarado um país socialista. "Foi sem duvida o maior fator para que Cuba fosse tratada na Conferencia de Punta Del Este como país americano" declarou o ministro cubano Ernesto Guevara de la Serna.

Em sua curta estada no Brasil, Che Guevara foi condecorado com a Grã Cruz da ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração brasileira atribuída a cidadãos estrangeiros. A cerimônia foi realizada no Salão Verde do Palácio do Planalto, onde se transcorreu os seguintes pronunciamentos:

Jânio Quadros : "Ministro Guevara, v. exa. manifestou em várias oportunidades o desejo de estreitar relações econômicas e culturais com o governo e povo brasileiros. Esse é o nosso propósito também. E é a deliberação que assumimos no contato com o governo e o povo cubanos. E para manifestar a v. exa., ao governo de Cuba e ao povo cubano nosso apreço, nosso respeito, entregamos a v. exa. esta alta condecoração do povo e governo brasileiros."

Che Guevara : "Sr. presidente, como revolucionário, estou profundamente honrado com esta distinção do governo e do povo brasileiros. Porém, não posso considerá-la nunca como uma condecoração pessoal, mas como uma condecoração ao povo e nossa revolução, e assim a comunicarei com as saudações desse povo que v. exa. pessoalmente representa. E a transmitirei com todo desejo de estreitar as nossas relações."

Bonança e tempestade

Se em agosto de 1961 as andanças de "Che" o trouxeram ao Brasil - onde foi recebido com honras militares e se hospedou no confortável Brasilia Palace Hotel - seis anos depois seus ideais o levarariam a destino bem diferente.

Em 9 de outubro de 1967, na Bolívia, onde lutava como líder dos camponeses e mineiros contrários ao governo militar, foi capturado e executado. Imagens do revolucionário morto estamparam milhares de cartazes como símbolo da vitória política pelos militares.

Os restos mortais de Che descansam no mausoléu da Praça Ernesto Che Guevara em Santa Clara, Cuba.



"Que importa onde a morte nos irá surpreender ! Que ela seja benvinda, desde que nosso grito de guerra seja ouvido, que uma outra mão se estenda para empunhar nossas armas e que outros homens se levantem para entoar os cantos fúnebres em meio ao crepitar das metralhadoras e novos gritos de guerra e de vitória!" Che Guevara




Homenagem póstuma de Clóvis Caparaó


Em dezembro de 1967, dois meses após a morte de Ernesto Che Guevara, Clóvis Caparaó, o revolucionário das Arcadas, publica na revista XI de Agosto uma homenagem ao líder socialista :


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Veja também :

Repercussão da morte de Caparaó em Migalhas

Migalhas dos Leitores

"Com Clóvis de Caparaó (Migalhas n°751 - 28/8/03 - Morreu "Caparaó") vai-se embora um pedacinho do Largo de São Francisco, naquilo que a Academia tem de melhor: Uma inteligência fulgurante abrigada num espírito inquieto, inconformado e incapaz de concessões ao convencional. Faltam-me palavras para descrever essa singularíssima figura, tão marcante para as turmas que passaram pelo Largo na segunda metade da década de 60 e na primeira da de 70. Seu desempenho na docência, fazendo com que deixe lembranças caras em tantos alunos, as alturas a que elevou a Faculdade de Direito de Franca, mostram que a centelha que todos viam no estudante era a do bom fogo. Muita saudade..." Arnaldo Malheiros Filho

"Somente quem conheceu o Dr. Clóvis de Carvalho Jr. sabe quão importante foi sua passagem pelas Arcadas e pela vida acadêmica (Migalhas n°751 - 28/8/03 - Morreu "Caparaó"). Homenagens, sejam quais forem, serão pequenas, ínfimas, frente à grandeza do amigo Caparaó. Adeus!" Alexandre Thiollier Fº, escritório Thiollier Advogados

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"Espírito permanentemente inconformado com o mundo real, Caparaó flanava por uma supra-realidade, um mundo de sonhos por ele construído noite-a-noite com sua inteligência viva e seus interesses culturais polimorfos. E que figura fascinante resultava de tudo isso! Amigos desde há mais de trinta anos, desde o páteo das Arcadas que juntos deixamos em 74, viemos nos reencontrar em Franca, para onde Clóvis trouxe suas luzes, que tanto contribuíram para fazer do iniciante curso de Direito da Unesp um dos mais respeitados do Brasil. Sempre muito magro, sempre muito fumante, Caparaó adoeceu há dez meses: e em sua casa na r. Saldanha Marinho, passos abaixo da catedral, desde então viveu a meio de belíssimas obras de arte, dentre as quais se destacavam quadros, muitos quadros, de Tarsila, de Guignard, de Portinari, de di Cavalcanti...

Seus alunos, que o veneravam (e a quantos, vindos de fora, não emprestou seu nome como fiador de locação de 'repúblicas'!), seus alunos quiseram visitá-lo todos, obrigando a que o mestre, em mais um gesto "caparaoniano", mandasse colar à porta da rua um aviso que ele próprio escreveu com caligrafia já trêmula: "Exmos. Srs. Alunos, professores e colegas advogados. Tendo em vista a urgente recuperação de minha saúde, a instâncias exteriores, tornaram-se necessárias as seguintes medidas. 1- Somente serão permitidas visitas a partir das 16h30, e até às 19h. As visitas deverão ser antecipadas por telefone e não poderão ultrapassar quatro minutos. 2 - As equipes profissionais (médica, enfermagem e farmacêutica) e de apoio voluntário, estão em condições de resolver quaisquer problemas inesperados que surjam. 3- Os problemas institucionais da Unesp serão resolvidos na Instituição, em diferentes órgãos e instâncias. 4. Serviços serão atendidos pelas equipes de Serviço. (...)".

Num sábado à tarde nos inícios deste ano, com ele me achava ao pé de sua cama quando a Alta Direção de Migalhas trouxe-lhe a "Folha Dobrada", que, com carinhosa dedicatória, mandara-lhe o Prof. Goffredo Telles Jr. : Caparaó, com os olhos marejados e a voz embargada, só conseguiu sussurrar: "bonito..., muito bonito...".

Morto no começo da tarde do último dia 27, deixou alguns versos sobre seu enterro, lidos à noite a seu lado no salão nobre da UNESP (Migalhas n°751 - 28/8/03 - Morreu "Caparaó"). É Clóvis de Carvalho Jr., sem tirar nem pôr. É o espírito de Caparaó, cuspido e escarrado:

"(...)

Vejo os que choram, e por dentro riem.

Vejo os que sentem o amigo findo.

Vejo os que cobiçam, os que dividem

a honra fugaz de ter sido "meu melhor amigo".

Nada vos digo - volto àquilo donde vim.

De tudo rio. De todos rio.

Já sou espírito a caminho do Nirvana eterno.

Vós sois terra. Terra ainda.

E quando vão, devagarinho,

da sombra do meu túmulo se afastando,

com último olhar eu nada digo, eu nada falo,

mas comigo penso:

Até breve, companheiros. Espero-os aqui."

Saudações acadêmicas, meu caro Clóvis! e visite por mim o Cesarino, o Basileu, o Vital, e os Chicos - o Elefante e o Torres." Carlos Alberto Bastos de Matos, Franca/SP

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