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Cenas da infância marcam a vida de Joaquim Nabuco

Em 1849, Recife dava à luz a uma grande promessa. O sobrado na Rua do Aterro da Boa Vista (atual Rua da Imperatriz Tereza Cristina), em que nascera Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, na manhã de 19 de agosto, deixaria nesse dia de ser apenas um sobrado para ser o cenário onde ganhou vida um dos personagens mais importantes da história brasileira.

Da Redação

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Atualizado em 14 de janeiro de 2010 13:18

 

Reminiscências 

Cenas da infância marcam a vida de Joaquim Nabuco 

Em 1849, nascia no Recife uma grande promessa. O sobrado na rua do Aterro da Boa Vista (atual rua da Imperatriz Tereza Cristina), em que nascera Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, na manhã de 19 de agosto, deixaria nesse dia de ser apenas um sobrado para ser o cenário onde ganhou vida um dos personagens mais importantes da história brasileira. 

Sua grande façanha de vida foi, sem dúvida, ter contribuído ativamente - como político, advogado, jornalista e escritor - para a abolição da escravatura que se deu em 1888, mudando radicalmente a economia e a estrutura social do país. 

Joaquim Nabuco tinha quase 39 anos quando o Brasil se livrou definitivamente deste mal. Ao contrário do que se possa pensar, suas convicções abolicionistas e mesmo sua propensão à política, que tanto lhe foi útil em sua luta, não nasceram na alma do "homem" Joaquim Nabuco - já intelectual e conhecedor do mundo, como conseqüência de estudos, companhias ilustres e vivência em diversos países - mas na alma do "menino" Joaquim.  

Em seu livro de memórias, "Minha Formação" (1900), Joaquim Nabuco registra com o cuidado que só o afeto pode imprimir as duas situações que mais marcaram sua formação pessoal e, consequentemente, suas atividades profissionais. O primeiro quadro imorredouro da infância remonta ao engenho da família. Nabuco nos conta: 

"Eu estava uma tarde sentado no patamar da escada exterior da casa, quando vejo precipitar-se para mim um jovem negro desconhecido, de cerca de dezoito anos, o qual se abraça aos meus pés suplicando-me, pelo amor de Deus, que o fizesse comprar por minha madrinha, para me servir. Ele vinha das vizinhanças, procurando mudar de senhor, porque o dele, dizia-me, o castigava, e ele tinha fugido com risco de vida..." 

Joaquim afirmou muito tempo depois desse episódio que foi esse o traço inesperado que lhe fez descobrir a natureza da instituição com a qual ele convivera até então familiarmente, sem suspeitar a dor que ela ocultava.  

Mas essa não foi a única imagem pueril a marcar profundamente a vida de Joaquim Nabuco, forjando para o glorioso futuro. Ele registra com emoção uma passagem dos tempos de colégio que evidencia como nasceu sua propensão à política : 

"O inspetor do nosso ano me chamou à mesa (...) para dizer-me com grande mistério que meu pai tinha sido chamado a S. Cristóvão para organizar o gabinete. Filho de presidente do Conselho foi para mim uma vibração de amor-próprio mais forte do que teria sido, imagino, a do primeiro prêmio que o nosso camarada Rodrigues Alves tirava todos os anos. Eu sentia cair sobre mim um reflexo do nome paterno e elevava-me nesse raio: era um começo de ambição política que se insinuava em mim."

Naquela época (1864-1865), o pai de Joaquim Nabuco, o senador do império José Tomás Nabuco de Araújo Filho, tinha passado do campo conservador para o liberal (como muitos à época).

Enquanto os homens que haviam entrado na vida pública iam restringindo suas aspirações, aproveitando a experiência para estreitarem-se no círculo de pequenas ambições, no desejo de simples aperfeiçoamento relativo, num espírito conservador, o pai de Joaquim Nabuco, à medida que ia em direção contrária, conquistava na política um papel quase imparcial : o de oráculo. Ao ruir da escravidão, pressentia ele, não demoraria o ruir da monarquia, o que de fato aconteceu em 1889.

Joaquim Nabuco em seus quinze, dezesseis anos, não compreendia plenamente as marcações políticas que se faziam entre conservadores e liberais, mas conhecia as convicções de seu pai, e estas construíram boa parte das bases de suas próprias convicções. 

Essas cenas de âmbito doméstico destacam-se na memória e na formação de Joaquim Nabuco.

E é somente quando buscamos essas reminiscências, e verificamos o quão fortemente elas tomaram o espírito da criança, que entendemos o homem idealista que ele se tornou.

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