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Concurso público

Mulher que alisou cabelo não perde a chance de buscar vaga por cota afrodescendente

Seu pleito foi negado na origem sob o argumento de que a "candidata não apresenta a maioria dos aspectos fenotípicos avaliados".

Da Redação

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Atualizado às 08:57

Uma mulher que se declarou afrodescendente para disputar cargo de auxiliar de professor, em vagas reservadas a candidatos negros de concurso público lançado por município do Vale do Itajaí/SC, teve confirmada sua inscrição no certame por decisão da 1ª câmara de Direito Público do TJ/SC.

Seu pleito foi negado na comarca de origem, após ato da administração no sentido de indeferir sua autodeclaração, sob o argumento de que a "candidata não apresenta a maioria dos aspectos fenotípicos avaliados".

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Em seu recurso ao TJ, a mulher reiterou que possui os aspectos étnico-raciais exigidos, mas explicou que seu cabelo é "quimicamente alisado e tingido". Acrescentou que seu irmão, por parte de mãe e pai, também se inscreveu no mesmo concurso e foi considerado afrodescendente pela comissão do certame.

"Penso que, ao reconhecer apenas um dos irmãos como negro, a comissão pode ter agido em desconformidade com o princípio da igualdade", anotou o desembargador Luiz Fernando Boller, relator da matéria. Ele reconheceu ser necessária a associação da autodeclaração a mecanismos de heteroidentificação para evitar e controlar fraudes.

No caso concreto, a comissão valeu-se do método visual. Diante da presença física da candidata, foram averiguados aspectos fenotípicos tais como traços negroides de boca, formato do rosto, do nariz e dos lábios, tipo e textura do cabelo e cor da pele.

Segundo o voto do relator, o elevado grau de miscigenação da população brasileira, como já reconheceu o STF, muitas vezes torna essa definição difícil e, por isso mesmo, comporta a necessidade de garantir aos candidatos o direito ao contraditório e à ampla defesa, caso se entenda por sua exclusão das cotas.

"No presente caso, em que a candidata possui os aspectos fenotípicos e se autodeclara afrodescendente, sobeja prudente, em juízo de cognição sumária, conceder a tutela almejada", posicionou-se Boller, em voto que foi seguido de forma unânime pelos demais integrantes do órgão colegiado.

Com isso, o ato que indeferiu a autodeclaração étnico-racial da impetrante está suspenso, com determinação para que o município em questão determine sua inclusão na disputa de vagas reservadas aos negros.

Leia o relatório e voto do relator.

Informações: TJ/SC.

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