MIGALHAS QUENTES

  1. Home >
  2. Quentes >
  3. Guerra das digitais

Guerra das digitais

Identificação nos aeroportos gera discussões

Da Redação

quinta-feira, 8 de janeiro de 2004

Atualizado em 7 de janeiro de 2004 10:34

 

 

 

 

Guerra das digitais

 

 

  • Migalhas dos leitores

"Não sei qual o porquê de tanta celeuma. Os americanos tomaram uma medida burra, nós demos o troco. Alguns argumentam que os irmãos do norte foram agredidos no 11 de setembro. Apesar de não ter sido definida a autoria dos criminosos - apesar do tempo já transcorrido - nenhum brasileiro foi considerado suspeito e as aeronaves eram americanas em vôo doméstico. Nenhum consulado ou embaixada foi depredado, sequer uma loja de junk food Mac Donalds, que já foram diversas vezes atacadas na França sem que os franceses tenham que tocar piano. Assim a argumentação dos meus conterrâneos carece totalmente de embasamento: os EUA não podem justificar o piano brasileiro nos EUA em razão de segurança, e me espanta que brasileiros bem informados, como os leitores de Migalhas, possam ver alguma razão nisso. Quanto à demora da colheita de digitais, somos um país de terceiro mundo, pobre, e não é de se esperar que tenhamos os sofisticados equipamentos do Império, equipamentos esses que não tiram da chuva ou do sol os brasileiros que querem ir conhecer o american way of life, formados em fila no exterior dos consulados sob a fúria dos elementos. Já deram a sugestão de que os americanos que assinarem um protesto contra o tratamento dado aos brasileiros poderiam escapar do fichamento: apóio essa idéia. Finalmente, na minha família há um dito de que quanto mais a pessoa se curva, mais aparecem os fundilhos. Atenciosamente," Paulo Werneck - Fiscal Aduaneiro

 

 

"Com  relação  ao incidente diplomático criado pelo fichamento dos ianques  poucos  atentaram,  ou  comentaram  que  o juiz cuiabano não é o autor da  ação,  que foi proposta por um membro da Procuradoria Geral da República, anônimo até o presente momento. Deve-se  lembrar,  ainda,  que  o judiciário somente proferiu tal decisão porque foi impulsionado, ou seja, simplesmente acolheu de forma liminar o pedido  feito  pela  Procuradoria, que aliás, é órgão público federal, do poder executivo e diretamente ligado ao Governo. Ou  seja, foi o próprio governo brasileiro (PT) que tomou e é responsável por essa decisão. Atenciosamente," Luiz Gustavo Bacelar  - escritório Gouveia Vieira Advogados

 

 

"O episódio do "fichamento" de viajantes para os Estados Unidos e seus reflexos no Brasil tem levado a discussões no campo dos "pró" e "contra". Mas estamos tratando do efeito e não da causa. Nos últimos anos estamos vendo um grande incremento de medidas diversas, as quais têm representado uma intensa penetração do Estado na vida privada e na intimidade das pessoas. Com o intuito de se perseguir terroristas, traficantes, lavadores de dinheiro, sonegadores fiscais, etc., todos os cidadãos têm sido presumidamente classificados como "suspeitos", de forma ampla e generalizada. O conhecido mote passou a ser "todos são culpados salvo prova em contrário, e olhe lá!". Trata-se de um "Big Brother Geral", um problema muito sério, lamentavelmente banalizado pela televisão. No caso do fichamento, qual a eficácia do procedimento? Ao ter a sua impressão digital e fotografia tiradas no momento da inspeção, quem garante que não haverá um erro de registro de informações anteriores e de transmissão dos elementos colhidos naquele momento, de forma a que situações injustas se multipliquem? Quem conhece a história das fichas do antigo DOPS que o diga. E as do FBI dos tempos da "guerra fria" também demonstram incomensurável baboseira. Se o dito cujo já tem um visto para entrar em outro país, não terá ele sido investigado satisfatoriamente? Acontece que, mesmo inicialmente aprovado, correrá o risco de ficar "em dependência" no aeroporto de destino, nas mãos de um funcionário mal humorado e ser indevidamente devolvido para o país de origem tal como se faz com mercadoria estragada. E vai se reclamar de quem? Qual a razão para que se dê ao Estado tamanho poder de investigação das pessoas, a partir de certos parâmetros por ele mesmo colocados? Da forma como as coisas estão andando, o esquema do filme "Minority report" vai se tornar uma terrível realidade: muitas pessoas serão condenadas por "perigo de dano"." Haroldo Malheiros Duclerc Verçosa. Consultor de "Leite, Tosto e Barros Advogados" e Professor de Direito Comercial da Faculdade de Direito da USP.

 

 

"Tive uma manhã péssima. Todos os dias assisto ao Bom Dia Brasil, e invariavelmente me irrito com os comentários da Ilma. Sra. Mirian Leitão, comentarista econômica da Rede Globo - seus comentários, em geral, são completamente desprovidos de qualquer análise profunda dos fatos e de qualquer conhecimento específico de economia. Hoje, porém, ela quebrou todos os recordes. Criticou pesadamente a decisão judicial que obriga os americanos que ingressam no país a identificar-se por fotos e datiloscopia. Seu argumento principal era no sentido de que os americanos podem fazê-lo, afinal, sofreram os atentados de 11 de setembro, e de que o Brasil jamais poderia "retaliar", posto que não podemos ficar sem os tão amados dólares dos turistas americanos. Criticou ainda o Itamaraty, que até o momento não recorreu da decisão. Não obstante minha opinião pessoal sobre o atentado de 11 de setembro (com todo o pesar e respeito pelas vítimas inocentes, mas foi uma simples conseqüência da ridícula política externa norte americana - voltamos ao "Big Stick"), a ilustre economista não se deu ao trabalho de analisar a situação como um todo. Primeiramente, devemos considerar o princípio da Reciprocidade, um dos mais importantes na formação da política externa brasileira. Esquecê-lo, neste momento, seria tratar desigualmente os países que compõem o cenário internacional, abrindo precedente para exceções das mais diversas. Além disso, e muito mais grave, não acatar a medida determinada pelo juiz cuiabano (além de desobediência) significa baixar a cabeça para o poderio econômico dos americanos (que, vamos e convenhamos, não está assim uma Brastemp...). Isso seria um desastre econômico muito maior do que a potencial perda de alguns turistas, posto que enfraqueceria nossa posição perante todo o mundo, principalmente perante os demais países das Américas, e prejudicaria imensamente nossas negociações sobre a ALCA. Ficaríamos mais próximos, assim, de ter que abrir mão de nossas posições e acatar a forma de Bloco Econômico imposta pelos EUA. Aliás, esta ALCA, nos moldes propostos pelos americanos, deve ser o grande sonho da economista - bem predatória à nossa industria e desfavorável à balança econômica. Ao contrário, penso que o governo brasileiro deveria tomar as medidas cabíveis e, antes mesmo do término do processo em Cuiabá, transformar a decisão judicial em norma - evitando assim discussões sobre competência, validade, eficácia, etc. da decisão. Pessoalmente (e dessa vez sem fundamento), penso até que não devemos modernizar os equipamentos utilizados para a identificação dos americanos: eles que amarguem algumas horinhas de fila. Abraço a todos, em especial ao Nobre Diretor," Alessandro Orizzo - escritório Emsenhuber, Abe e Advogados

 

 

"Essa história de americanos serem fotografados e identificados pelas digitais ao entrar em território brasileiro lembra muito a máxima "se a causa é boa, faça um acordo, se é má, promova um pleito", porque o Brasil nada ganha com isso; ao contrário, dificulta ainda mais a venda do nosso mirrado turismo. Não obstante, favorece diretamente aos integrantes do FBI que passam a ter, se quiserem e mediante requerimento à autoridade policial brasileira, a identificação de americanos, que não podem fazer a não ser quando há indiciamento. Somente sob esse prisma, entendo o "yes, nós temos juízes" mencionado pelo Elio Gaspari." Alexandre Thiollier - escritório Thiollier Advogados

 

 

"Tenciono escrever um artigo sobre o tema para publicação na página regular que, de duas em duas semanas, possuo no JORNAL DA TARDE d'O ESTADO DE S. PAULO. Estou convencido que o uso de um juiz perdido entre os cipós de Mato Grosso foi ato deliberado do PT para não comprometer nem o Itamaraty, nem a política externa brasileira, nem o próprio Lula - seguindo nisso o exemplo do juiz espanhol Garzón no caso de Pinochet na Inglaterra, aberrante do mesmo modo em termos jurídicos e diplomáticos. Obrigado pelas mensagens e transcrições enviadas que me ajudarão no argumento do JT. Abraços cordiais," J.O. - José Osvaldo de Meira Penna

 

________________________

 

 

"Meu vizinho, o Granato, é um nacionalista impertérrito, um patriota intimorato - os adjetivos são empregados por ele -, cujas convicções nada e ninguém conseguem remover. Não perde um jogo de seleção nacional, nem que seja handball. Quando é futebol então, mesmo chegando exausto de um plantão - ele é médico - e sendo o jogo realizado do outro lado do planeta, lá está ele, garrafa de café na esquerda e bandeirinha bicolor na direita, torcendo pelo nosso escrete. Que ele chama de canarinho, fiel ao seu falecido amigo Geraldo José de Almeida, mesmo quando os patrocinadores inventam um escrete azulão, mais para arara do que para canário. Nossos jogadores são, para ele, o destemor de chuteiras. Assiste aos jogos crispado de emoção. "Eu só me arrepio quando o Lúcio sobe pra cabecear ...", comento, irônico. Ele me olha com severidade, incapaz de aprovar minha desaprovação. Lúcio, para ele, é o derradeiro bastião de nosso território pátrio. "Mas que bastião, ô Mário, se ele é branco?" brinca um amigo comum, cujo nome eu omito, para evitar processos judiciais. O Mário Granato, nosso ilustre facultativo - é como ele e seus colegas de turma denominam os médicos, talvez no pressuposto de que obrigatório mesmo é só o coveiro - exuma o já sepulto olhar com que me havia brindado, e se limita a balançar a cabeça de um lado para o outro. Falasse, e ele, certamente, não omitiria o "ignaro", um de seus adjetivos mais ofensivos, quando se refere ao despreparo de seus interlocutores.

 

Mas eis que, mal iniciado o novo ano, debruça-se o Granato sobre a campainha do meu apartamento, despertando-me do sono reparador dos excessos reveiônicos. Abro a porta, ainda não inteiramente desperto, e lá está ele, sorriso de orelha a orelha, jornal multidobrado na mão direita, todo eufórico: "Nem tudo está perdido! Nem tudo está perdido!". Tento imaginar que notícia teria feito meu caro amigo pular da cama tão exultante. Talvez a foto do Presidente tentando levar mais um tombo, agora do alto de um skate. Talvez a notícia de algum transplante bem sucedido, o que sempre cobriu de orgulho nosso cardiologista. O ator que saiu de coma em face da ...

 

"Que transplante nem meio transplante. A mais bem sucedida das minhas safenas é lixo perto disto", exclama ele, modesto, estapeando, com o dorso da mão esquerda, reiteradas vezes, o jornal dobrado.

 

Antes que eu dissesse algo, lá está ele em minha sala, lendo com toda solenidade a notícia. Certo juiz francês teria determinado que os norte-americanos, de agora em diante, deverão ser identificados pela colheita da impressão digital datiloscópica, antes de serem autorizados a entrar no país. O velho código de Talião reeditado na pátria do liberté, egalité, fraternité.

 

"Mas eu não sabia que a ojeriza dos norte-americanos pelos franceses havia chegado a esse ponto!", admiro-me. "Que França coisa nenhuma. O juiz é brasileiro, mato-grossense, filho de índio. Nossa honra está lavada! E tudo em nome daquilo que vocês aí chamam de princípio da reciprocidade."

 

Inútil minha tentativa de mostrar a ele que a reciprocidade não tinha nada a ver com aquilo, pois as situações são bastante diferentes. Não há no Brasil ameaça alguma da prática de terrorismo. Ainda mais por norte-americanos. Concordo ser paranóico pensar que algum brasileiro saia daqui para ir zoar lá na terra do Disney. Eles vão mais é à procura de uma cozinha pra lavar, um táxi pra dirigir, uma muamba pra revender. Mas, terrorismo!? Quem mataria a galinha dos ovos de ouro? Mais difícil é imaginar o que um norte-americano vem fazer aqui, com tanto assalto, seqüestro, balas perdidas, arrastões ... Isso sim é que é suspeito!

 

"Você não sabe o que é patriotismo! Fizeram lá conosco, estamos fazendo aqui com eles. Que isso sirva de exemplo a todos os países que têm sido humilhados com essa história de ter de tirar sapato, segurar as calças com as mãos enquanto eles examinam o cinto, fornecer fio de cabelo pra exame de DNA. O que é que eles estão pensando? Pois o nosso índio fez muito bem em dar o troco. Logo um índio! Nada mais simbólico: o conquistador sendo humilhado pelo conquistado!"

 

Eu poderia arrolar uma dezena de argumentos jurídicos para mostrar que aquilo era apenas um ato arbitrário decorrente de ato arbitrário anterior. A velha lei do "violência gera mais violência". E que aquela alegria patriótica dele duraria até a abertura da secretaria do Tribunal, na semana seguinte. Silenciei, porém. Como dizia o francês autêntico, le coeur a des raisons que la raison ne connaît point." Adauto Suannes - desembargador aposentado

 

___________________

 

"Guerra das digitais. Sobre essa tupiniquisse de fazer os americanos tocarem piano na entrada no Brasil nada a acrescentar ao que o Adauto Suannes disse." Edgard Silveira Bueno Filho - escritório Lima Gonçalves, Jambor, Rotenberg & Silveira Bueno - Advogados

 

"Meus cumprimentos ao Doutor Adauto Suannes, pela análise serena e bem-humorada. Realmente, o princípio da reciprocidade não pode ser invocado na hipótese. Permito-me acrescentar, apenas, que eventual protesto ou mesmo retaliação contra as medidas determinadas pelo governo americana são questões que dizem respeito à política de relações exteriores do país, com possibilidade de graves repercussões, que transcendem, em muito, o simples intercâmbio de turistas. As autoridades competentes para apreciar a matéria e decidir qual atitude a tomar são, portanto, o Presidente da República e o Ministro das Relações Exteriores. Ninguém mais.

 

Realmente, como diz o ilustre Desembargador, é só esperar a abertura da secretaria do Tribunal para que a sentença seja imediatamente suspensa.

 

A propósito, convém refletir num ponto: a identificação dos brasileiros nos EUA é feita por meio de luz (nem mesmo sujam os dedinhos dos nossos compatriotas), e leva cerca de cinco segundos. Estudantes universitários americanos ficaram, anteontem, SETE HORAS retidos no aeroporto, para o exercício da "reciprocidade" tupiniquim." Cesar Mecchi Morales - promotor de Justiça - SP

 

_______________

 

 

"Todos aceitam a tese da igualdade entre as pessoas, sem qualquer distinção, constante dos Constituições modernas. Isso não impede que a maioria da população do planeta seja carente. Mas, o princípio é irrepreensível. NO campo internacional,há um século, Ruy Barbosa, em Haia, defendia o princípio da igualdade entre os povos. Isso não impede que as antigas nações colonialistas sejam os povos ricos e as ex-colonias formem o "exército" de países pobres, como dizia Gunnar Myrdal. Mas o princípio é válido, apesar de a soberania dos países ter ficado mais vulnerável após o fim da Guerra Fria, com uma só potência hegemônica arvorando-se o papel de polícia do mundo, baseado no direito da força. Mas, ninguém ignora que, no campo do Direito Internacional, vigora o princípio da reciprocidade. Cada nação tendo o direito de tratar os súditos de outra da mesmo forma que seus súditos são tratados por aqueloutra. Assim, seria de bom alvitre que a grande imprensa deixasse de tratar o tema sob o ponto de vista político, com a proverbial submissão aos interesses dos EUAN (Juracy Magalhães, quando chanceler, cunhou a brilhante frase "o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil", que Roberto Campos transformou de filosofia em prática política e econômica)e o analisasse sob o prisma do direito internacional. É verdade que nosso turismo pode ter uma perda (mas tenho visto relatos de muitos norte-americanos aceitando tranqüilamente o fato), mas, eu, pelo menos, fui criado e educado, na lar e na escola, idolatrando o Brasil, cantando, diariamente, hinos patrióticos antes das aulas, reunidos todos no pátio, e reverenciando os que acabavam de dar a vida nos campos da Itália defendendo a Pátria e a Liberdade (era o início dos anos cinqüenta). Meus pais e professores inculcaram em mim a idéia de que nossa soberania não se vende. Muito menos por alguns dólares do turismo (que até inclui o turismo sexual, a pedofilia e outras mazelas)." Ricardo Martins - advogado em Salvador e São Paulo

 

 

"Interessante notar que a discussão acerca do fichamento de Americanos que entrem no Brasil se dê em duas frentes. Uma a Técnico-Jurídica que entende se correta a determinação do juiz Federal que, embasando-se em um princípio Jurídico vigente, determinou a identificação dos Americanos que entrem em território nacional. A outra, econômica, que envergonhada de ousadia do Judiciário em tratar de igual pra igual uma nação "superior" acha um absurdo o incômodo ao qual estamos sujeitando os turistas norte americanos. Fica um gosto estranho na boca, como outro princípio do Direito nunca abertamente dito. Algo como "o direito só se aplica aos inferiores", ou "manda quem pode, obedece quem tem juízo". Na verdade, se estamos lidando com atrativos aos turistas americanos, poderíamos pensar na legalização do Turismo Sexual, ou mesmo na diminuição da carga tributária para atrair empresários. É realmente preocupante quando achamos injusto aplicar a justiça àqueles que são "superiores"." Paulo Tarso Rodrigues de Castro Vasconcellos - acadêmico de Direito do Largo de São Francisco

 

 

"Realmente questão da identificação dos turistas americanos tomou conta do país. Parece-me que foi acertada a decisão do magistrado federal, embora tem-se escutado algumas opiniões (sempre econômicas) contrárias. Porém não se pode calar diante de barbaridades que tem-se dito como o que saiu editado no JB do dia 7/1 na pág. "A8" em que diz:

 

"Mas a maior estranheza em todo esse episódio é a surpreendente revelação de que um juiz federal singular - em matéria que diz respeito a interesses transnacionais - pode ter mais poderes que o próprio presidente da República para entender e decidir sobre o que é melhor para o Brasil. Este é o verdadeiro foco da questão. E é, também, o mais preocupante."

 

Pensei que tivesse lido que a República Federativa do Brasil é um "Estado democrático de Direito". Sendo assim, há separação dos Poderes e o Poder Judiciário não necessita pedir permissão ao presidente da República para tomar este tipo de decisão. Tem-se falado também que o Poder Judiciário não pode interpretar o princípio da reciprocidade, mas sim o Itamaraty (JB 7/1 pág. A5). Gostaria da manifestação dos demais migalheiros a respeito destas pérolas." Marcelo Negrão D. Silva

 

____________

 

 

"Uma pena a conclusão do comentário explanado pelo Sr. Adauto Suannes. O que precisamos são de mais índios, mais Juliers, mais Granatos........ Espanta-me a existência de cidadãos brasileiros que são contra a decisão do Excelentíssimo Julier, sejam juristas, médicos, garis, etc, mesmo após ver outros brasileiros serem escorraçados, humilhados e debandados do território americano. De arbitrariedade é feito o governo norte-americano e não a gloriosa decisão de nosso Julier, pautada na soberania do Estado Brasileiro, nos princípios da "reciprocidade" e da equidade e, principalmente, no princípio de caráter, de orgulho próprio, de amor a pátria e aos seus compatriotas!!! O que precisamos e de mais nacionalistas "impertérritos" e "intimoratos"!! Obrigado Julier!!! "Yes, nós temos juízes"" Gustavo Pinhão Coelho - escritório Pires e Gonçalves Advogados Associados S/C

 

 

"Acredito ter sido acertada a decisão do Juiz Federal que aplicou o princípio da reciprocidade à determinação americana de, digamos, "identificar detalhadamente" os naturais de países subdesenvolvidos, inclusive aqueles, como a maioria dos países da América Latina, que não têm histórico de atentados terroristas. A medida americana é mais uma afronta não só aos subdesenvolvidos, mas ao mundo inteiro, pois incentiva a discriminação patente numa época em que tantos esforços são feitos para minimizar os efeitos da desigualdade existente entre os dois blocos (de desenvolvidos e subdesenvolvidos). Neste caso, o Brasil está corretíssimo em fazer da mesma forma, a hegemonia americana tornou-se ilegítima e contestar os seus abusos é mais do que desejável. Ditar as regras de um jogo rígido e jogar conforme as suas próprias regras, privilegiadas por uma condição financeira que gerou tecnologia é, além de imoral, uma tremenda cara-de-pau! Quanto ao desconforto dos turistas americanos e ao despreparo da polícia federal brasileira, os primeiros que reclamem em casa (e certamente o farão), e o segundo, ora, mas o mundo não é dividido entre ricos e pobres?? Pois então, vamos encarar a realidade: é mesmo! E as regras do jogo devem ser as mesmas para todos, pelo menos onde é possível, de forma que esse tipo de discriminação seja repensada em sua origem." Krishna Brunoni de Souza

 

 

"Se os nossos políticos tivessem peito para enfrentar a arrogância nata dos americanos, como teve esse juiz, os EUA e demais países saberiam que este não é um país de silvícolas. Penso que deveriam ser identificados pelos narizes..." Vania Alves de Souza - escritório Martins e Salvia Advogados

 

 

"Sou jovem e acho que pela primeira vez nesse país, ocorreu uma reação autêntica contra o imperialismo americano. Infelizmente, os velhos jornais da lojinha chamada Brasil insitem em ser pseudos intelectuais condenando este ato. Vingança, por que não?" Maurício Verdejo, advogado

 

 

"Vibramos com o ato unilateral do Ilustre Magistrado Federal, que determinou o fichamento dos Americanos (colocamo-los aos nossos pés). Todavia, o principio da inércia do Juiz foi violado, alem do ato ter ultrapassado as fronteiras de sua competência, uma vez que deveria ser do Executivo Federal a iniciativa de impor a medida. Assim, dada a minha ignorância no assunto, aguardo que outros migalheiros me esclareçam. Se possível." Rui Soares

 

 

"Entendo por correta a decisão do juiz cuiabano, tendo em vista o princípio da reciprocidade. O quê realmente não entendo é a posição dos americanos fazendo-se de vítimas. Os ianques são o povo que mais mal causam aos demais povos com a sua conduta invasora, agressiva e hostil, por se intitularem a polícia do mundo. Mas o que me deixa pasmo é o fato do Brasil, mesmo sendo considerado um país de "risco", receber uma enorme quantidade de turistas americanos. Há algo de contraditório no ar!" Kleber Marcos Costalonga Varejão Filho

 

 

"São decisões como estas do Juiz Federal, que demonstram a força do Judiciário e do dever que tem o magistrado de defender os interesses do Brasil, quando muitas vezes os políticos estão compromissados com apaziguar questões diplomáticas enquanto brasileiros são maltratados no exterior, principalmente quando se trata de um País de grande importância econômica e sem índole guerrilheira. Parabéns ao Juiz Federal e que o seu colega da magistratura se unam a este intento e o defendam de todos os males que um profissional pode sofrer quando atinge questões destas proporções. Ele deu a resposta que, não só brasileiros gostariam de já ter dado, mas também muitos países que se curvam ao império." Alessandro Buarque Couto

 

 

"Com relação à polêmica envolvendo a liminar de lavra do Magistrado Julier, penso que a coisa toda tomou contornos de "torcida", como se se estivesse opinando sobre a escalação da seleção brasileira. O edital do Estadão, jornal de inegável tradição e respeitabilidade, não honra, com o devido respeito, a sua própria tradição de saudosas e priscas eras, ou seja, um pouco de sobriedade não iria mal. Tecnicamente, desafio algum jurisconsulto ou mesmo neófito a indicar os tais "flagrantes equívocos" contidos na decisão. Não os vi e penso que tampouco existem. De outra banda, criticar juiz virou esporte, daí porque o tom de claque de ludopédio emprestado ao tema. E digo isso com isenção pois sou advogado. Se Julier foi correto do ponto de vista técnico e veiculou sua decisão de modo consentâneo com a circunspecção que de um magistrado se espera, não vejo porque todo esse barulho. Evidentemente a decisão em questão é polêmica, mas dizer que é "destrambelhada" e outros desonrosos epítetos, não tem cabimento. Há todo um sistema recursal - sem esquecer dos manejos próprios da seara política - apto a modificar o teor da tal decisão. Pessoalmente, tenho para mim que a decisão, que obviamente terá a duração de um suspiro haja vista toda a massa crítica que se formou em seu entorno, foi boa. Mesmo não permanecendo, marca uma posição e mostra, de um modo ou outro que, como disse Elio Gaspari : sim, nós temos juízes." Antonio Minhoto

 

 

"Já era de se esperar as reações na mídia nacional acerca da corretíssima decisão do Juiz Federal de MS obrigando a identificação dos americanos chagados ao Brasil. Afinal, já não é de hoje que os gusanos de nossa imprensa só fazem alardear em suas páginas e imagens os interesses estrangeiros no Brasil. É por isso que eles acham "absurdo" identificar os americanos, mas acham justíssimo os americanos identificarem os brasileiros (não obstante sejam os EUA o berço do terrorismo, contando até com agências de Estado criadas exclusivamente para criar e alardear o terror nos países que se recusam a colaborar com eles - vide CIA, NSA, Depto de Segurança Interna etc), apóiam a invasão do Iraque ainda que por cima dos organismos internacionais, exigem a tortura e a humilhação de Saddam (disfarçado de "interrogatórios não convencionais") e outros absurdos mais. Assim, amigos migalheiros, a única conclusão que podemos chegar é que quem quer defender os interesses do Brasil deve optar, sempre, pela opinião contrária destes boletins da Casa Branca disfarçados de jornais." Moacir de Freitas Junior, Araraquara/SP

 

 

"Como os cidadãos norte-americanos estão passando por alguns transtornos nos aeroportos, parece que todos resolveram condenar a decisão do juiz federal mato-grossense. Ele agiu, sim, com bom senso, tendo como base o absurdo de que uma medida totalmente discriminatória atinja os brasileiros que vão até os EUA e fique por isto mesmo. O magistrado utilizou-se de um princípio legal e, embora a PF não tenha tido tempo (afinal de contas a decisão começou a ser cumprida no dia imediato) para se organizar, o temor de perder os turistas deveria ser menor do que o temor de perdermos ainda mais, a nossa dignidade. Se a medida do governo norte-americano fosse contra qualquer cidadão de qualquer país, diríamos que eles realmente querem evitar atos terroristas, mas a medida atinge apenas países do terceiro mundo, como se cidadãos europeus ou japoneses não pudessem nunca praticar atos terroristas. Pelo que sei, os turistas estão sendo informados sobre os motivos da identificação e, quem tem um mínimo de bom senso, entende a medida. Não creio que o turista preconceituoso, com complexo de superioridade, que acha que seu país está acima de todos os outros seja o turista que o Brasil deseja. Aliás, as pessoas de bom senso, em qualquer lugar do mundo, certamente consideram corajosa a posição da Justiça e do governo brasileiros. Se a decisão for suspensa simplesmente por medo de perder uns turistas que menosprezam nosso País, nós merecemos continuar sendo vistos como cidadãos de segunda categoria." Waldineia Ladislau, jornalista, editora da coluna Direito e Justiça, Jornal O Popular, de Goiânia.

 


"Em desacordo com a opinião do Dr. Eudes Zomar Silva sobre a decisão do juiz mato-grossense, que aplicou o princípio da reciprocidade para a recepção dos cidadãos americanos em nossa pátria (Boletim Migalhas 836 - 6/1/03), faz-se mister lembrar que a maioria dos países do mundo, inclusive o Brasil, sofre de terrorismo. Porém, se trata de uma espécie diferente deste. Espécie esta que muitas vezes não sentimos a ameaça, mas que nos acompanha há tempos, e não apenas de 2001 para cá, e mata mais do que os atentados terroristas dos quais já ouvimos falar. Esta tão cruel forma de espécie é o terrorismo econômico que o governo norte-americano pratica perante aos povos que não conseguem manter sua economia tão aquecida quanto à deles ou que divergem de suas posições político-econômicas. Na verdade, não é uma atitude descabida, ou de "pirraça", por parte do nosso judiciário e nem se trata de discriminação para com os norte-americanos, pois, afinal, o que são oito horas de espera para um cadastro quando nós temos que esperar semanas, ou até meses, para conseguir um visto de permanência e ainda correr o risco de ser deportado por ser parecido (na ótica americana) com um terrorista? E, para finalizar, por que apenas nós devemos ter bom senso (se é que pode se chamar de bom senso) para agüentar a problemática que nos é imposta ingressar nos EUA., mas que não é necessária para alguns países "amigos"?" Ivandick R. dos Santos Jr., acadêmico de Direito da Universidade Mackenzie

 

 

"Anos atrás, sem nenhum estardalhaço, logo após a França ter decidido exigir visto de entrada aos brasileiros, o Itamaraty passou também a exigir os tais vistos. Ninguém reclamou. A França voltou atrás. Agora, na era Bush, os EUA resolvem inovar em matéria de imigração. Até sapatos mandam tirar e não se acanham se os pés protegidos forem de Ministro de Estado Brasileiro. O Itamaraty não faz nada e é preciso que nos confins do Brasil seja acionada a Justiça Federal para dar paradeiro nessa situação vexatória. Juiz Federal prontamente libera seu Julgado e manda restabelecer a reciprocidade: cá como lá. E agora os interessados nos dólares reclamam ou mandam reclamar. E nós somos obrigados a escutar as opiniões desses entendidos em tudo. Que falem os juristas!!!" Maria Beatriz Werneck

 

 

"Concordo plenamente com o juiz que decidiu pela identificação dos americanos que desejam entrar no nosso país. Por que se acham os EUA no direito de impor regras e não querer cumpri-las quando adotadas por outro país? O governo tem que apoiar esta decisão, pois somos uma nação soberana onde devem sem obedecidas regras, dentre elas, o controle de estrangeiros, que muitas vezes, ingressam no Brasil com fins obscuros. Palmas para o Sr. Juiz!!!" Anelisa Memoria

 

______________